Foto: Leila Cunha
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O menino brinca – estranhamente sozinho – numa praia deserta.
Tem nas mãos um pequena e rústica concha de barro.
Seu movimento é intenso – um vaivém constante até a beira do mar onde colhe um punhado de água para despejar em um buraco na areia que ele próprio cavara com as mãos.
Parece não se cansar na intrigante tarefa.
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O homem santo, de nome Agostinho, caminha pela mesma praia.
Está envolto, ele próprio, no entender e explicar o mistério da Santíssima Trindade.
Pensa que pensa:
– Como pode o Pai, o Filho e o Espírito Santo formarem uma só santidade. Um só Deus?
Único, misericordioso e indivisível.
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De repente, num átimo de segundo, Agostinho fixa os olhos no menino.
A cena o espanta.
Tem algo ali que também não consegue explicar.
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Aproxima-se.
A criança continua concentrada em seu brincar.
No ir e vir ao mar.
Sempre com os mesmos gestos.
Enche a vasilha de água e a despeja no mesmo lugar.
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Agostinho não se contém.
– Meu filho, o que você está fazendo?
A resposta é singela:
– Estou trazendo o mar para dentro deste buraco que fiz na areia.
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Atônito, o santo homem tenta dissuadi-lo:
– Mas, não vê que isso é impossível, menino?
E o garoto, resoluto, lhe responde:
– Em verdade, em verdade, vos digo: é mais provável eu colocar toda a água do oceano neste buraco na areia do que qualquer um dos homens compreender os mistérios da Trindade e os desígnios de Deus, nosso Pai!
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Que as crianças cantem livres…
E nos inspirem na construção harmoniosa do amanhecer do novo tempo.
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O que você acha?