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50 anos do tricampeonato mundial

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Foto: Reprodução/wordpress

Trata-se de uma triste ironia escrever sobre os 50 anos do trimundial da seleção brasileira no México em tempo desta trágica pandemia e (necessário) distanciamento social.

Pelo menos para mim.

Olhem a diferença!

Eu e os meus – além dos 90 milhões de brasileiros – estávamos todos nas ruas e praças naquele 21 de junho do longínquo ano de 1970.

Foi mesmo uma celebração embalada pela marchinha ufanista de Miguel Gustavo (“Pra frente, Brasil”) e também, incrível, pelo inesquecível samba de Paulinho da Viola, “Foi um rio que passou em minha vida” que alguns batuqueiros, sei lá de que escola de samba, cantavam e cantavam e cantavam enquanto, no improviso, desfilavam pelas calçadas da avenida Paulista.

A multidão os seguia. Em delírio!

“Lai-a, laia-a, laia-a, laia-lalaaa”

Se um dia, meu coração for perguntado…

Eu direi que tinha 19 anos – e alguma consciência do que acontecia no Brasil.

As aulas do cursinho pré-vestibular nos davam conta da história não-oficial e do que verdadeiramente ocorria nos porões da ditadura militar, subvencionada pelos Estados Unidos. Sempre eles…

O professor Cassemiro, no Colégio IV Centenário (onde cursei o ensino médio), já nos alertara:

O futebol é “o ópio do povo”.

Os militares precisam dessa conquista para desviar as atenções dos desmandos e horrores que acontecem impunemente após a decretação do AI-5.

Por isso, Zagallo é o técnico – e não Saldanha ou Dino Sani.

Por isso, tantos militares comandam a rigorosa preparação física do nosso selecionado. Capitão Cláudio Coutinho, Parreira…

– Vamos jogar ao meio-dia sob o sol inclemente do México. Os europeus vão derreter…

A gente ouvia o venerando professor.

E acreditava. Até a página 2.

Ele sabia das coisas, mas era incontrolável o encantamento que, em nós, produziam as jogadas de Pelé, Jairzinho, Tostão, Gerson & Cia Ilimitada.

Além do que – pasmem senhores – foi a primeira Copa do Mundo transmitida ao vivo pela TV.

Impossível não se envolver.

Porém, ah!, porém…

O professor, repito, sabia das coisas todas da vida.

Foi um dos luminares com quem topei nessa longa e sinuosa jornada. Culto, inteligente, progressista.

Mas, pensem comigo, ele já não vivenciava os nossos vãos 18,19, 20 anos quando, reconheça-se, é bem mais fácil dizer:

Vamos ser felizes agora – e depois a gente vê isso!!!

Cá com os sobressalentes botões da camisa que não uso há 90 dias, ainda agora, quando escrevo sobre o tema, confesso: a impressão que tenho é a de que o professor falou o que falou porque era necessário, importante não esconder a realidade que vivíamos. Mas, no fundo, assim como nós, o Velho Cassemiro deve ter ficado feliz com a vitória da nossa seleção.

Não sei se ele gostava de futebol, não lembro.

Lembro, sim, que ele torcia muito por nós, os seus (dele) jovens e inconsequentes alunos.

Torcia também pelo Brasil. Para que se tornasse, enfim, uma nação justa e solidária.

Sempre dizia:

– Sei que vocês vão virar esse jogo!

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