“Ruy Barbosa de Oliveira (1849/1923) foi um polímata brasileiro, tendo se destacado principalmente como jurista, advogado, político, diplomata, escritor, filólogo, jornalista, tradutor e orador.”
Está lá na Weekpedia para quem quiser saber, ao menos de início, sobre um dos luminares da nossa cultura e sociedade.
A bem da verdade, dei uma espiadinha na enciclopédia digital para dirimir uma dúvida atroz e conflitante: o nome do homem se grafa com i ou com y?
Encontro escrito das duas formas.
Mas, faço aqui a opção por Ruy com y. Fica mais nos conformes com a grandeza da fama e do renome internacional.
Nada contra a letra i que tem lá sua importância, mas, ao que consta, não consta do registro oficial de nascimento.
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Aproveitei tão solene e árdua pesquisa para dar uma conferida se lá, ao longo do verbete, havia registro de um causo envolvendo o distinto Ruy Barbosa que me contaram – e agora eu pretendo lhes contar.
Nada encontrei nos compêndios virtuais ou impressos que escrinchei, mas insisto em dissertar.
Se quiserem entender o episódio, como fake news, têm todo o direito.
Se toparem me ler, a história é a seguinte.
Dois pontos. Parágrafo.
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Nosso digníssimo polímata morava num amplo sobrado em área erma da bela cidade do Rio de Janeiro. Sobrado este provido de muitos cômodos, mobiliário requintado e vasto quintal. Quintal este onde, além de uma variada horta e jardins soberbos, o nosso Águia de Haia tinha considerável apreço pela variada criação de galinhas, patos, marrecos, gansos, perus e até um ou outro faisão de fina procedência.
(A propósito, polímata quer dizer sujeito que estuda e conhece diversas ciências, vi no dicionário.)
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Conta-se, pois, que: numa das noites que se perdeu no oco do tempo, o nobre brasileiro foi acordado por desvairado alarido causado pela bicharada. Algo de estranho havia no reino dos galináceos.
Ruy, indignado, armou-se de lanterna e espingarda para conferir que furdúncio era aquele, noite adentro, no fundo de seus domínios.
Em lá chegando, não deu outra: encontrou um larápio solitário açambarcando em seus braços, como podia, meia dúzia de aves.
O sujeito estava prestes a escafeder-se.
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Arma a postos. O ladrão na mira. Ruy Barbosa fez o enfrentamento:
– Pare por aí, oh, bucéfalo!
O homem parou. Ruy, não:
– Senhor intruso, não me apego ao valor venal dos bípedes e dos palmípedes que estás pretenciosamente a me gadunhar. Mas, sim, ao ato sorrateiro que o fez, infortunadamente, galgar os umbrais de minha respeitável e sacrossanta morada nos beirais desta madrugada. A qual propósito se deve?
O ladrão se deu conta do enrosco que se metera. Ruy não parava com aquele palavreado rebuscado:
– Se o fez por precisão e necessidade, poderei eu, generosamente, transigir. Mas, se o fez e faz para abusar da minha prosopopeia de homem íntegro e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica no alto da sua sinagoga. Ou seja, em resumo, essência e circunstâncias, reduzir-te-ei a zero.
Aturdido com o insólito flagrante e principalmente com a oratória do seu então oponente, o gatuno não teve outra alternativa – e apelou:
– Mas, então ilustre, levo ou nao levo os frangotes?
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O que você acha?