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Amaro e a cidade

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Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas

Parques e jardins reabriram, segunda-feira, em São Paulo.

Fim da quarentena para Amaro, que não é o santo, nem o bairro que tem o nome do santo, mas o amável leitor que, como tantos e muitos, superou o pavor da vez, e encarou o libertador desafio:

Cento e tanto dias depois, foi dar uma caminhada no Parque do Ibirapuera.

Andava saudoso do lugar, o Amaro.

Tem coragem o moço!

Coragem que me falta.

Por isso – e, gentilmente, na aba do jornalismo cidadão, eu lhe pedi e, pelo WhatsApp, ele me passou o relato.

Meu caro blogueiro, escreva o seguinte:

Protelei o quanto pude, mas…

Não resisti e lá fui eu rever as ruas, o parque, o lago, as trilhas e, por fim, as pessoas (com e sem máscaras) e as pessoas e seus cães que, aliás, formam uma tribo à parte, mas constante a cada esquina de Sampa.

Lembro que já era assim antes do isolamento social.

Mas, agora, está muito assim.

É bonito, viu! 

Minha primeira sensação, assim que passei a guarita do prédio, foi a de ter o sol batendo forte em meu rosto, como há tempos não acontecia.

Que sensação boa, inexplicável!

No ato, fechei os olhos.

Aí me veio a segunda sensação: uma leve vertigem, quase um arrepio de liberdade, com o acionamento e o deslizar do portão eletrônico.

Um passo – e tudo como dantes no quartel do Abrantes.

Não é assim que os do nosso tempo diziam?

Pois é…

Não é mais assim, não, amigo.  O dantes e o Abrantes, creio, não são mais aqueles.

Há um estranhamento no ar. No andar silencioso e cabisbaixo da maioria das pessoas, uma tensão, um incerto desconforto. Estão todos ali, mas não estão. Entende?

Eu sei. Difícil explicar.

Creio que a readaptação à vida em suas novas e delicadas nuances não será nada fácil. Ao menos para mim, um circunspecto senhor lavado e enxaguado nas loucuras ingênuas e no ir-e-vir sem restrições dos anos 70 e 80 e assim seguindo até antes de tudo isso acontecer.

Sinto que terei muito o que reaprender. Mas, eu chego lá…

Devagar, álcool em gel 70, e sempre.

Por falar em devagar, meu novo projeto agora é dar umas voltas de carro. Uns perdidos pros lados da Cidade Universitária, aqueles cantos da cidade, Gostava de dar uns perdidos por ali. Lembrar o tempo de estudante, aqueles momentos todos, os sonhos tão próximos a cada um de nós, aquela leveza d’alma de quem nada desconfia.

Além do que, amigo, preciso tirar o possante da garagem que faz tempo que o dito-cujo não toma um solzinho no capô – e vamos que vamos.

O trânsito, me parece, está bem mais fluente.

Por enquanto, não vejo congestionamento algum.

Por enquanto…

Ah, São Paulo, minha São Paulo, sejamos condescendentes com a cidade…

Você continua a mesma – pergunto.

Será que a Rita Lee continua sendo sua mais completa tradução?

Rita está mais serena, zen, em seu refúgio no meio do mato.

Vi outro dia numa live com o venerando Gilberto Gil.

Queiramos ou não, Sampa permanece sendo o avesso do avesso do avesso. A metrópole do contraditório.

Feito eu.

Que quebrei a quarentena, e saí.

Mas a única pressa que eu tinha, a bem da verdade, amigo blogueiro, era a de voltar pra casa. Minha fortaleza, porto seguro.

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