Dezembro 2009. Local: Universidade Metodista de São Paulo. Campus Rudge Ramos. Banca avaliadora do Trabalho de Conclusão de Curso – Livrorreportagem Eu Nunca Fui Assim– A (des)construção da imagem de Geraldo Vandré. Autores os formandos: Ana Luiza Silvestrini da Costa, Fernanda Galmacci Doniani, Paula Cristina e Silva, Rodrigo Sampaio de Sousa e Silvana Figueiras Chaves. Orientação do professor Oswaldo de Oliveira.
Com grande honra – e indisfarçável emoção, participei da banca, como examinador, ao lado do inesquecível jornalista José Paulo de Andrade (ao centro).
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Momento único para mim – e, seguramente, para os estudantes e todos que ali estavam.
Destaco os jovens formandos porque José Paulo de Andrade representava – e representa – um nome consolidado no jornalismo de opinião. Um prócerer da Comunicação. Coerente; por vezes, polêmico embora sempre em sintonia com a democracia. Concordássemos ou não com suas análises e posicionamentos, sabíamos que tínhamos ali a defesa dos valores inabaláveis do que, em última análise, chamamos de Humanismo.
Para a plateia, basicamente pais, familiares e amigos dos estudantes, porque assistia ali, naqueles momentos, a um ritual acadêmico que, por fim, se transformou em ato festivo, com o respaldo ilustre de um dos grandes nomes do jornalismo brasileiro.
Para mim, um encontro mais do que especial.
Desde garoto, acompanhei a trajetória de Zé Paulo na Rádio Bandeirantes. Primeiro como repórter na equipe esportiva de Pedro Luiz, depois com a migração para o Jornalismo e a programação convencional que, por 47 anos, ele abriu com o tradicional O Pulo do Gato às primeiras horas da manhã.
Era o ‘bom dia’ habitual de todos naquele humilde lar da rua Muniz de Souza, no bairro operário do Cambuci, em São Paulo.
Quando eu acordava, menino ainda, a Dona Yolanda, minha mãe, já estava atenta ao que dizia o então jovem e promissor comunicador.
Lembro bem…
Na sequência, a Rádio Bandeirantes trazia O Trabuco com Vicente Leporace que eu conhecia da TV, pois era o apresentador do infantil Grande Gincana Kibon, na TV Record.
Tinha ainda Fausto Canova, o notável Hélio Ribeiro, Ferreira Martins…
Com tantas e tamanhas referências, ainda hoje, por vezes, eu me pergunto: como não fui parar no radiojornalismo?
Pergunta sem resposta, amigos – e aqui estou a batucar letrinhas vida afora…
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Hoje, quando soube da notícia do falecimento do grande José Paulo de Andrade, lembrei-me com emoção daquele dia que se perdeu em meio à névoa do tempo. Lembrei o contentamento dos estudantes (nota 10), as palavras de incentivo com que Zé Paulo contemplou os recém-formados jornalistas, a simpatia em atender a todos e, sobretudo, a minha imensa admiração ao vê-lo ali tão próximo a nós.
Admiração que persiste e, agora, se faz também luto e pungente saudade.
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Amândio Martins
18, julho, 2020Extraordinário texto, amigo Rodolfo. Como sempre, enxuto, preciso e cirúrgico.
Por influência de meus queridos e saudosos pais cresci ouvindo O programa Pulo do Gato na Rádio Bandeirantes com grande jornalista José Paulo de Andrade. E assim foi até outro dia.
Já adulto, tive o prazer e o privilégio de conhecê-lo pessoalmente, e assim, durante mais de 25 anos, nossa amizade só cresceu.
Pessoa extraordinária! A exemplo do profissional, referência no jornalismo brasileiro.
Agora, confesso, não sei como será o início de todas as manhãs despertadas sem a potente voz do amigo.
Para você ter uma ideia, o botão que sintoniza a estação radiofônica do meu radio-relogio é preso com fita adesiva para que eu não corra o risco de ser acordado por outro radialista senão o José Paulo de Andrade.
A voz se cala! O miado não será mais o mesmo, ou até, não mais existirá também.
Amigo José Paulo de Andrade, siga sua viagem em paz. Que Deus receberá você de braços abertos. Até um dia!