Foto: Funarte/Portal das Artes
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Meus amigos, meus inimigos (se é que os tenho?) e meus indiferentes (e certamente os há)…
Vou lhes confessar que, por vezes, sou provocado a discorrer sobre temas polêmicos e palpitantes aqui neste humilde Blog. Pedem-me que dê meus pitacos sobre a vida e seus mistérios, os amores nesses tempos de pandemia, o cotidiano dos humanóides em isolamento social, a influência das mídias digitais nas artes e no contemporâneo, os efeitos da cloroquina no desgoverno…
Enfim…
Sugerem que exiba aos meus inefáveis cinco ou seis leitores toda sabedoria (que me é rara) no melhor estilo Karnal-Cortella-Pondé tão em voga em nossos tumultuados dias.
Que tal, hein?
Não sei…
Talvez imaginem que assim eu possa ser convidado para alguma live ou coisa do gênero.
Respondo que não tenho esse dom. Além do que não sou lá muito fotogênico, menos ainda sou de comover massas, turbas e tribos.
Sou um cara simples do bairro operário do Cambuci, em São Paulo e, ademais, o que ‘está-feito’ está feito. Meu barato mesmo é batucar essas maltraçadas. Na medida do possível, do divertido e do viável.
Ah, há outro motivo também.
O Brasil de hoje me faz lembrar uma história do genial e genioso Tim Maia.
Vou contá-la, prometo.
Antes, porém, dou a autoria a quem me fez relato: eu o ouvi (o relato) de um dos músicos da banda Vitória Régia, o Nabuco, que acompanhou o Síndico por longos e longos anos.
Antes porém ressaltou que Tim tinha bom coração, era brincalhão, generoso; mas, quase sempre, era imprevisível.
Gostava de aprontar.
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A lenda é a seguinte:
Tim recebia um grupo de ruidosos amigos para uma noitada daquelas em seu espaçoso apartamento no Rio de Janeiro.
Madrugadaça. Música alta, bebidinhas, vozerio e outras e variadas cositas más…
(Que estas não podiam faltar, reza aquela outra lenda)
De repente, o anfitrião usa todo aquele vozeirão para pedir silêncio – e proclama em tom de alerta:
— Estão batendo na porta!
Quem seria o visitante inesperado?
Para tudo.
Silêncio.
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Estranho!
Ninguém ouve nada.
Preparam-se para retomar a festa… Mas, Tim insiste, escolhe uma das convidadas – e ordena:
— Estão batendo na porta, Fulana! Vai atender.
Todos apuram o ouvido.
A moça disfarça, finge que não é com ela. E não sai do lugar
Não há ruído nenhum. Deve ser zueira do dono da festa.
Uma pegadinha, quem sabe?
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Tim espera alguns segundos e repete a ordem algo transtornado:
— Estão batendo na porta, caramba! Vai atender, Fulana, já falei!
O silêncio aumenta.
Expectativa…
Todos arregalam os olhos.
Observam a porta e o cantor e o cantor de olho na incauta Fulana que, sem saber o que fazer, desiste e faz o que a fera manda.
Vai até a porta, gira a chave, abre e…
— Está vendo, Tim. Não há ninguém, diz com ares de vitoriosa.
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Visivelmente contrariado, nervoso, o Síndico responde:
— Também, pudera, você demorou tanto para atender que fosse quem fosse acabou indo embora.
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Resumo da ópera-bufa:
Cada qual no seu quadrado, com a verdade (forjada ou não) que prefere acreditar.
O que você acha?