Fotos: Arquivo Pessoal
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6 – ÚLTIMOS DIAS DE POMPEIA
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“Seria ótimo se o Vesúvio, sem aviso prévio, vomitasse novamente fogo, cinza e pedras que amortalhassem a moça onde quer que era estivesse, com quem e como estivesse. E a imobilizasse no tempo…”
Trecho do romance A Casa do Poeta Trágico, de Carlos Heitor Cony (1926/2018)
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Acho o romance de Cony um dos mais belos que já li. Narra o desvario de uma paixão desfeita como fio condutor para tratar das misérias da condição humana. O título – igualmente denso, como o transcorrer dos capítulos – faz alusão a uma suposta lenda de um casal de amantes, Glauco e Ione, que consegue escapar à destruição da cidade no exato momento da erupção do implacável Vesúvio.
É daí que parte o notável e saudoso Cony, um dos meus autores preferidos. Capaz de definições, tipo:
“O sol é uma grande Paixão, que vai acabar, ainda que dure milênios, porque tudo o que queima, apaga.”
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Mesmo com toda essa referência, amigos leitores, vou lhes confessar:
Eu estava com uma nhaca danada em visitar o Sítio Arqueológico de POMPEIA que, pelo decálogo dos turistas, é parada obrigatória e necessária para quem faz suas andanças pela região.
Quer dizer…
Queria e não queria.
Sou um tanto bocó por natureza e vocação, mas me entendam, por favor.
Pressentia, eu me conheço: não me sentiria assim, como direi, confortável em meio às ruínas que o fogo, cinza e pedras vomitados pelo Vesúvio destruiu por completo a tal civilização.
Além do que, a gente vinha tão suave naquele percurso ensolarado de cidades da Costa Amalfitana. Maior astral, tudo se encaixando na boa, apesar do friozinho comum à época.
Não queria quebrar essa onda.
Por outro lado, a história de Pompeia, eu a ouço desde garoto.
Verdade!
O pai, os amigos do pai – aquela italianada toda contava e recontava a tragédia, entrecortada ao vinho e às canções locais, como se a coisa toda tivesse acontecido naqueles dias – e, pior, poderia acontecer de novo.
Pode?
Pode.
Falavam tanto que um deles me presentou com um livreto que trazia o conto infantil Últimos Dias de Pompeia, a saga do cãozinho que preferiu morrer ao lado do dono (um garoto) do que fugir como, dizem, outros animais fizeram.
A imagem petrificada dos dois, um junto ao outro, foi encontrada pelos escavadores – e estaria ainda hoje por lá.
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Esse triste enredo era a minha pièce de résistance nas aulas de Oratória do curso ginasial no Colégio Marista da Glória.
Pois é, meus caros… Eu tive aula de Oratória, acredite quem quiser!
Nunca tirei um 10 com minhas apresentações. Mas, botava um medo danado nos colegas de classe dizendo, assim como os amigos do pai, que tudo poderia tornar a acontecer a qualquer momento.
Aí, o professor Irmão Fidélis tinha que explicar para a gurizada que essa história era pra lá de antiga e cousa e lousa – e, principalmente, que não havia vulcões no Brasil.
Enfim…
Já adulto, batendo nos cinquenta e muitos, lá estou eu em meio a todas aquelas ruínas, ruas e praças, levas de turistas, outro tanto de guias a consolidar em mim a certeza de que a Torre de Babel foi um dos grandes acertos da Humanidade.
Enfim, lá estou…
Senti-me assim tanto desacorçoado em meio a tantos ruídos, escombros e informações que, assim que vi o que sobrou de um belíssimo anfiteatro, não tive dúvidas. Me instalei num dos lances da arquibancada, pedi uma garrafa de água para o vendedor que passava (lá também tem dessas) e lá fiquei… À distância, na minha. A admirar o onipresente Vesúvio, pois, sei lá, a gente nunca sabe, é ou não é?
Vai que…
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Em tempo:
As aulas de Oratória eram nas manhãs de sábado.
O professor escolhia um aluno na sala, e este deveria apresentar-se aos colegas de classe.
Havia quem cantasse, quem declamasse, quem contasse história, quem lesse em voz alta a própria composição sobre este ou aquele palpitante tema.
Deveríamos nos apresentar devidamente uniformizados, com os sapatos pretos retintos, penteados – e aleatoriamente seríamos chamados pelo professor, o Irmão Fidélis (estudei em colégio marista).
Tínhamos que ter, na ponta da língua, o nosso número.
Era obrigatório ser convincente na apresentação.
O Gilberto Chimenti era o rei das redações. Nota 10
Mas, a grande estrela era o Humberto que ganhou o apelido de Catarí por interpretar com voz de tenor a linda canção, com o refrão homônimo.
Alguns pais e mesmo outros Irmãos vinham assistir as apresentações.
A música se chama Cuore’ngrato, foi composta em 1911, mas ainda hoje, creio, emociona italianos e descendentes no Brasil e no mundo.
Eu, inclusive – e principalmente…
O que você acha?