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Crônicas de Viagens – Pádua & Bruges

Foto: comunitaitaliana.com

12 – Santo Antônio, rogai por nós!

PÁDUA – Itália. Meu filho tinha 17 ou 18 anos. Vê-lo rezar, de olhos fechados junto às relíquias do padroeiro, na matriz de Santo Antônio é uma das imagens mais bonitas que tenho gravada em minha mente.

Olhei de longe – e guardei na memória.

Nada lhe perguntei. Sequer comentei. Mas, em meio àquela pequena multidão de peregrinos, esta foi mesmo uma cena inesquecível.

Não duvido que Santo Antônio tenha atendido àquelas preces.

Estamos todos bem – e são e salvos e fortes.

*foto: arquivo pessoal

BRUGES – Bélgica. A cidade é encantadora. A gente se vê dentro de um presépio. Um rio sinuoso corta o centro antigo, onde turistas caminham em meio às construções medievais; belas, belíssimas.

Um vento cortante e gélido faz com que procuremos abrigo e algum descanso na igreja central. As imagens dos santos nos impressionam.

Como é hábito dos turistas, fazemos um périplo pelos corredores laterais da secular construção. Todos em absoluto silêncio. Há um canto gregoriano de fundo. Mas, a voz que se ouve nos é familiar.

Em tom de fervoroso devoto, um brasileirinho de cabelos cumpridos, deve ter seus 16, 17 anos, não deixa a menor dúvida do que quer:

— Se liga, Santo Antônio, maior respeito, mas me arranje uma namorada bem rica. Beleza?

Pela expressão bem-humorada da imagem, talvez seja minha imaginação, mas acho que o menino vai se dar bem.

UM VOO rápido na imaginação, e estamos na cidade de São Paulo, zona central.

Se algum de vocês, meus queridos cinco ou seis leitores, passar pelos arredores da igreja Santo Antônio do Pari, reparem se não há um rapaz cabeludo, também aí por volta dos 16, 17 ou 18 anos, com ar contrariado de quem passou a vida a esperar.

Ele está de roupa nova, um tanto ultrapassada para os dias atuais. Mas, o que fazer se ressurgiu agora do túnel do tempo, ainda com a esperança de que a “bandidinha” apareça, como prometeu.

Eu lhes conto como foi.

E foi no mais antigo dos anos.

Conheceram-se na praia num desses fins de semana de verão. Caminharam pela areia e conversaram, apenas conversaram o que os jovens conversavam daquela época.

Ela voltaria para São Paulo naquela tarde. Ele insistiu: queria voltar a vê-la.

A menina ficou sem jeito, talvez namorasse alguém por aqui, mas concordou.

Combinou então de encontrá-lo no sábado seguinte, às sete da noite. Em frente à igreja de Santo Antônio do Pari.

— Parí?

— É Parí…

Ele topou mesmo sem ter a menor noção de onde ficava o bairro operário paulistano – e quantas conduções tomaria para lá chegar.

Então, ele contou os dias, as horas, os minutos da semana que teimava em se arrastar.

No dia, hora e local combinados, lá estava o incauto. A contar as horas, os minutos, os segundos…

E desconfio, com uma ponta de nostalgia e revolta, que o espectro do cabeludo – um tanto sonhador, outro tanto inconsequente – ainda continua por lá.

Valei-nos Santo Antônio!

 

 * Publicado originalmente em 13.06.2007

 

 

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