Foto: Filipe Araújo
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Permitam-me revisitar agora meus tempos de repórter.
Tempos em que, a essa altura da jornada, estava atolado até o pescoço na cobertura das eleições municipais paulistanas. Muita movimentação e adrenalina com o prazo de fechamento da edição, a expectativa dos candidatos e o que então chamávamos de “a marcha da apuração”.
Não era o vapt-vupt que hoje propiciam as urnas eletrônicas.
A contagem arrastava-se voto a voto, mas andava bem.
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Tento recapitular, assim de memória, os vencedores desde então:
1985 – Jânio Quadros (PTB)
1988 – Luiza Erundina (PT)
1992 – Paulo Maluf (PDS)
1996 – Celso Pitta (PPB)
2000 – Marta Suplicy (PT)
2004- José Serra/ Kassab (PSDB/PFL)
2008 – Gilberto Kassab (DEM)
2012 – Fernando Haddad (PT)
2016 – Dória/Bruno Covas (PSDB)
Esqueci alguém?
Desconfio que não.
(Qualquer dúvida, por favor, confiram no Google!)
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Pitadinhas históricas e comentários
Jânio, Erundina e Celso Pitta foram azarões nos pleitos em que venceram.
Amealharam uma legião de eleitores num arrastão nas últimas semanas.
Surpresa geral.
Cientistas políticos – e mesmo institutos de pesquisas – tentaram em vão explicar o fenômeno. Sem sucesso, no entanto.
Registre-se que Jânio Quadros, um político da velha-guarda, mesmo com o ranço do retrocesso, derrotou a então estrela emergente e luzidia das oposições, o então senador Fernando Henrique Cardoso.
A derrota pôs a nocaute a chamada ala progressista do MDB que, a partir de então, perdeu bons espaços nos ministérios do Governo Sarney.
Ficou claro aí que a tal democracia – resgatada do limbo ditatorial seis meses antes – não seria a tal estrada em linha reta por aqui. Não teria vida fácil.
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Três anos depois, creditou-se a vitória de Erundina ao voto de protesto pela tibieza da gestão anterior e do governo federal às voltas com a incontrolável espiral inflacionária.
O PT era um partido recém-criado e foi, creio, a primeira conquista de expressão no âmbito regional com repercussão em todo o país.
As eleições se resolviam em um só turno.
Lembro que mesmo quem fazia as pesquisas de boca-de-urna se espantava com a maciça – e até então impensável – votação da candidata.
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A história de Celso Pitta candidato é bem emblemática em termos de política tupiniquim.
Dois grandes caciques do malufismo, Calim Eid e Salim Curiati, pleiteavam a indicação do nome que deveria se candidatar para suceder o próprio Maluf nas eleições de 96. Para tanto, trabalhavam fortemente nos bastidores para respaldar a indicação. E, desta forma, capitanear o malufismo no Estado enquanto o político-mor, o Dr. Paulo, concentraria esforços na realização da eterna aspiração presidencial.
Rumo ao Palácio do Planalto, e de Fura-Fila..
Maluf preferia não arranjar desafetos especialmente naquele momento. Seria desastroso, para os planos pessoais, ter o partido, digamos assim, partido, dividido.
Consta que aconselhado pelo empresário Edevaldo Alves da Silva, outra liderança do grupo, trata de buscar uma terceira via, independente às duas alas.
Assim surge o nome do funcionário de carreira das empresas da família Maluf, o economista Celso Pitta.
Poucos acreditavam no bom desempenho de Pitta em sua estreia nas urnas.
Eis que uma animação de um bondinho expresso, a quem chamaram espertamente de Fura-Fila, cai no gosto popular ao ser mostrado exaustivamente em pleno horário eleitoral. Seria a solução para o grave problema dos transportes públicos na Capital.
As pesquisas viraram da noite para o dia.
Pitta levou.
Foi a consagração do marketing político como instrumento de convencimento das massas.
Mas, custou caro ao Dr. Paulo e partidários.
Foi a última manifestação vitoriosa do malufismo em São Paulo e no Brasil
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Chama a atenção nos cinco pleitos seguintes o fato de que dois deles foram usados como trampolim para o Palácio do Governo – e, mais objetivamente, com olhos firmes, à futura disputa presidencial.
José Serra e João Dória ficaram dois anos apenas na cadeira de alcaide.
O sucessor de Serra, Kassab, ágil articulador político, conseguiu inclusive se reeleger em 2008.
É o que Bruno Covas, o interino de Dória, tenta fazer agora.
Se me permitem o pitaco deste humilde observador, o moço já está no segundo turno.
A incógnita é a disputa de quem será o segundo.
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Se as urnas confirmarem o que as pesquisas eleitorais indicam até aqui, surge o nome do candidato do PSOL, o ativista Guilherme Boulos, o que também não deixa de surpreender.
Será a primeira vez que, no espectro das esquerdas, um partido se sobrepõe nas urnas à supremacia do PT em São Paulo desde a redemocratização do país.
Repare na relação acima que, em nove eleições, o Partido dos Trabalhadores venceu três. Erundina (que, por sinal, é vice de Boulos), Marta e Haddad (registre-se que ambos não conseguiram a reeleição).
Ou seja, temos um fato novo. Merece atenção.
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Breve análise
Ouvi de um entrevistado, certa feita, que o eleitorado paulistano é tido como conservador. Por vezes, impulsivo.
Sujeito a chuvas e trovoadas, retruquei.
Meu interlocutor, jornalista político e sociólogo, sorriu – e confirmou.
Explicou que, se olharmos o mapeamento eleitoral das campanhas anteriores, é possível concluir que temos, grosso modo, 1/3 dos votantes para cada lado. Com variações mínimas. Um pouco pra lá, um pouco pra cá, distribuem-se entre conservadores e progressistas.
Cabe exatamente ao terço restante, entre indecisos, desconfiados e indiferentes, decidir quem ganha e quem perde no jogo das urnas e da democracia.
Penso que este quadro não mudou.
Daí, a expectativa…
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Só mais um pitaquinho.
Seja qual for o resultado das eleições de domingo é só o resultado das eleições de domingo.
Não terá peso decisivo na corrida presidencial de 22.
Tem muita água pra rolar até lá.
Águas revoltas, e ameaçadoras.
Em todo caso, vamos às urnas, pessoal!
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* Volto na segunda ou na terça.
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VERONICA PATRICIA ARAVENA CORTES
14, novembro, 2020Cenas do passado. Ao ler o post lembrei que em tempos de contagem voto a voto, os institutos de pesquisa pagavam gente para acompanhar a contagem e a divulgação de cada urna, seção enfim. Todas as urnas de SP iam para o Anhembi, no final dos anos 80 acompanhei esse processo da democracia manual e recebi um dindin de quebra.