Foto: Arquivo Pessoal
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7 – BALÃO
Pois, então, de volta àquele assunto chato. Não da pandemia, não. Que pelo que ouço dos adultos, é um tema para lá de chato também. Triste. Horroroso. E vai demorar.
Quero lhes falar da separação dos meus pais.
Foi um sufoco, viu?
Como meu pai, por mais que falasse, falasse, não conseguiu fazer minha mãe desistir de usar o vestido azul, menos ainda aceitou trocá-lo por um vermelho, os dois resolveram dar um chute nessa bola chamada casamento e mandá-la mar afora.
Acho que foi isso.
Sei lá, não entendo essas coisas.
*
Sei que, quando a gente não abre o berreiro por estar triste, fica um ardido dentro do peito da gente. Que é uma coisa chata mesmo. E estraga o dia.
É preciso desabafar.
No final do ano, dei um chute – um chutinho, na verdade – no Balão, que é o meu cachorro e eu não sei por quê?
Acho que sei, sim.
É que eu estava assistindo à final da Taça Libertadores da América que o River Plate perdeu para o Flamengo. E fiquei muito @#%!!
Ops, triste da vida. (Quase falo outro palavrão).
O Radamés veio me consolar que o Flamengo, o campeão, também é clube rubro-negro e tal. Que eu morava no Brasil e todos estavam felizes e tal e tal e tal.
Então, como é que eu poderia não chorar e dizer que não estava triste pelo resultado do jogo. Perdeu, perdeu. Melhor ganhar, né? Mas perdeu, o que posso fazer? A verdade verdadeira é que eu estava pensando no meu pai e com muita saudade dele. Muita!
Sobrou para o pobre do Balão. Mas, foi um chutinho só – e ninguém viu.
Acho que nem doeu.
Agora, por causa da pandemia, muitas pessoas devem estar bastante tristes. Seria bom que todos conversassem e, ainda que distantes, se sentissem juntos. Assim ninguém precisa chutar os cachorros. Ou qualquer outro bicho de estimação que seja.
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Continua amanhã…
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O que você acha?