Foto: Arquivo Pessoal
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Eis que me fazem um desafio.
Querem que este humilde tocador_de_letras caseie, com pontos firmes, algumas linhas sobre o mais banal e o mais complexo dos tecidos: o amor.
Dizem que eu já me arrisquei por essas veredas (quase) literárias e mais: são – e serão – sempre bem vindas crônicas e contos no gênero.
Donde se vê e deduz que, entre meus cinco ou seis leitores, temos cá um punhado de românticos, sonhadores e afins.
Não os reprovo.
Em tempos tragicamente bicudos, o que nos resta?
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Confesso que já percorri as sinuosas alamedas do assunto em questão.
Num passado recente, cometi algumas crônicas, digamos, pretenciosas e fugazes. Também me arrisquei em dois romances sob a mesma égide no ano passado: o e-book Notícias de Um Amor Inacabado (vejam a referência aí ao lado, na home) e o folhetim aqui publicado em capítulos O que o tempo leva… (que pretendo ver impresso ainda este ano).
Ponham na conta do isolamento social em 2020 tais arroubos e literatices, por favor
Ocupei-me de tal tarefa meses a fio e, ao cabo e ao largo, fiquei feliz com o resultado final.
“Platitudes, meu caro, platitudes”, disse-me um velho amigo, o Escova.
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Sinceramente, não me tenho como especialista de aprofundados conhecimentos sobre o tema. Especialmente nos dias que correm e voam em que ouço dizer as coisas se dão amplamente – mas, não só – no âmbito dos relacionamentos virtuais, na arena pública das redes sociais, nos escaninhos dos aplicativos e congêneres.
Sempre me surpreendo com tais e tantas modernidades.
Sou um senhor de idade provecta, duas vezes vacinado, sempre à espera de tempos melhores. Tempos em que o menos valha mais e a vida digna e harmoniosa possa ser compartilhada entre todos indistintamente.
O que sei é que tanto o amor quanto a vida não permitem notas de rodapé.
Explicações futuras, me entendem?
Vive-se – e… vive-se!
Ou não.
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Repito:
Não sei se tenho bagagem suficiente para mergulhar nesse mar revolto.
Permito-me, no entanto, como é do meu agrado e feitio, lhes contar um brevíssima uma fábula.
Querem saber?
Pois então…
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Havia um pastorzinho que andava a pastorar…
(Foi tema de música infantil, inclusive. Quem se lembra?)
Quando não estava em seu laborioso ofício de subir e descer as montanhas para bom pasto dar às suas ovelhas, o rapaz gostava de enveredar pelos bosques que rodeavam o castelo do reino.
Gostava de ouvir o som das águas do riacho, e livre sentir-se em meio à solidão e a rama.
Num desses passeios, quando o sol ainda seguia alto no horizonte, o nosso herói avistou em uma das janelas da torre da fortaleza a bela princesa daquele reino distante. Já ouvira falar da exuberância da rapariga, mas não imaginou que fosse tanta e tamanha – e, desde então, se fez inesquecível.
Encantou-se, como só e acontecer a todos os cavaleiros que a viam.
Mesmo não sendo da seleta tropa dos lindos-lindões, ele apaixonou-se perdidamente.
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Inclusive porque, dado a devaneios e delírios, mesmo à distância. o pastorzinho teve a sincera impressão de que a princesa também o mirava.
Seria correspondido?
Voltou no dia seguinte para conferir se era este o caso, e o outro e o outro e o outro…
Todas as tardes lá ia o pastorzinho.
Lá estava a princesa.
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Certo vez, quando voltava para casa, o rapaz encontrou uma velha senhora perdida nas trilhas do bosque.
Fez questão de ajudá-la.
Deu-lhe água do próprio cantil, deu-lhe norte e rumo.
Acompanhou-a até sua morada, carregando sobre os ombros o feixe de lenha que a senhora portava.
Era mesmo um gentil homem.
Como paga à sua generosidade, a velhinha, que era chegada nuns babados de magia, falou que fizesse um pedido. Que este seria prontamente atendido.
Mas, ressaltou:
– Pense bem! Esteja absolutamente seguro do que quer e almeja.
Só lhe impôs uma condição, a senhora.
Tal pedido, depois de cumprido, não haveria como retornar ao que um dia fora…
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Perfeito! – respondeu malandramente o pastor.
De olho na garota dos seus sonhos, não teve dúvida do que pretendia:
– Quero ser um príncipe!
E assim se fez!
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Na manhã seguinte, o pimpão acordou príncipe.
Assim, devidamente paramentado, ele correu se apresentar ao castelo nos trinques e respeitável caravana de súditos.
(Não me perguntem de onde surgiu a rapaziada, por favor.)
Abriram-se os grandes portões.
Ouviram-se os clarins – e, montado em lindo corcel, ei-lo na presença do rei que, entusiasmado com tão inesperada visita, se mostrou surpreso e curioso:
– Diga lá, o nobre: a que devo a honra dessa ilustre personalidade em meu reino?
O pastor que se fez príncipe não titubeou:
– Venho humildemente propor casamento à sua filha, a linda e mais do que amada princesa.
O rei – ora quem diria? – abriu um largo sorriso – e aquiesceu.
Casar a filha lhe pareceu oportuno e alvissareiro:
– Não faço qualquer objeção a essa feliz união. Único senão, meu rapaz: quero que se cumpra e respeite a vontade da minha filhota, a linda princesa.
De pronto, mandou chamá-la.
Queria ouvi-la.
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Imaginem, caros e raros leitores, o coração do nosso príncipe?
Bateu acelerado ao imaginar o encontro. A cena, o beijo…
Aqueles momentos de espera lhe pareceram durar séculos.
Enfim, o sonho tão almejado…
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Mas, ó desilusão, quem apareceu foi a ama da princesa.
Era a tal velhinha, aquela que disfarçou-se em bruxinha do bem, com a incumbência de unir o casal.
Veio com a resposta pronta, na ponta da língua:
“A princesa não pode e não quer comparecer a esta reunião.”
– Por quê?” – quis saber o rei.
A resposta da senhorinha:
“Ela está à janela… Espera pelo jovem pastorzinho a quem, desde o primeiro dia em que o viu, jurou aos Céus entregar seu amor e o resto dos seus dias.”
Dito isto, a ama se retirou. No estilo e com um maroto pensamento:
“Vacilão. Tinha que acreditar em si mesmo, e no que sentia…Deu trabalhão danado transforma-lo em príncipe. Para nada.”
E o rei? Pois então o nobre rei olhou para o desarvorado rapaz. Deu uma sacudidela nos ombros a lamentar o equívoco – e encerrou a audiência.
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Moral da história, por conta do filósofo contemporâneo Djavan:
Por ser exato, o amor não cabe em si.
Por ser encantado, o amor revela-se.
Por ser amor, invade…
e fim.
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clarice falasca
16, abril, 2021Amei!!!