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Tons e sobretons

Foto: Arquivo Pessoal

Tem coisas que são assim…

Não há como explicar.

A cidade que amanhece nevoenta, envolta por um céu cinzento, ameaçador…

mas é a tua cidade, a nossa cidade,

e apesar dos tons e sobretons distantes e gris, 

você se sente acolhido,

é o teu lugar, cara;

entende o significado mais amplo

da palavra pertencimento.

Tem coisas que são assim…

Trazem um sentimento vago, 

que só a sós, e em silêncio,

– nós, os que ainda acreditam e esperam e anseiam -,

somos capazes de vivenciar

mesmo sem entender,

mesmo sem pensar.

Tem coisas que são assim.

Um naco de memória,

um riso que, ao lembrar, nos faz sorrir,

um gesto que transcende o movimento,

um olhar mais alongado,

para dentro da gente,

para o nada,

para tudo à nossa volta.

Tem coisas que são assim.

O passo e o caminho.

Aquilo que eterniza o instante,

O átomo,

O istmo a entrecortar o oceano.

A vida

Os amores amáveis…

O que somos.

Tem coisa que são assim.

Sonhos e desvãos,

vacilos da alma,

saudade miúda e intermitente,

poema que nunca se escreveu,

mas intuímos, e sabemos de cor.

Assim…

E só assim…

Como ver o mar.

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