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Uma fábula italiana

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Foto: Arquivo Pessoal

Carlito ouvira a história dos avós que viviam em Pozzuoli, uma aldeia litorânea nos arredores de Nápoles.

Era garoto ainda…

Encantava-se com a narrativa.

Lá, no mais antigo dos anos,  houve um alquimista que ‘inventou’ um pequeno bastão  (30 cms, se tanto) capaz de, a um breve toque, transformar em ouro qualquer objeto de metal, qualquer metal que fosse.

Que maravilha!

O mago só não se transformou no homem mais rico do mundo porque, naquele exato período, povos do Oriente invadiram o sul da Itália e se apoderaram de tudo o que encontraram.

Para evitar que caísse em mãos estranhas, o alquimista transformou o bastão em um graveto igual a tantos outros e o escondeu em um feixe próximo à lareira.

Os anos se passaram…

Chuvas, ventos fortes, nevascas, nunca mais se teve notícia do graveto encantado.

Desapareceu.

Havia dúvida se fora usado para incrementar o fogo das noites frias. Ou se alguém, por um desses acasos do destino, o atirara longe nomeio da floresta.

“Felice è colui che trova il bastone incantato!”

O avô divertia-se ao ver o olhar maravilhado do menino quando ouvia a lenda.

Assim que se tornou um rapazote, Carlito não teve dúvidas do que faria da vida.

Seria ele o felizardo a encontrar o bastão encantado.

Saiu a campo.

Bateu toda área ao redor da aldeia, chegou a Nápoles e seguiu para onde o vento soprasse.

Todo o graveto que encontrava batia na fivela do cinto que era de um metal qualquer – e esperava o resultado.

Vasculhou vales e montanhas, florestas e matas, fundos de rios e praias…

Andou por toda a Itália a repetir mecanicamente o procedimento.

Encontrava um seixo, batia na fivela e continuava as buscas.

Haveria de achar.

Certa manhã, quando acordou em Bergamo, no norte da Itália, Carlito olhou distraidamente para a fivela do cinto e viu um brilho diferente: ela havia se transformado em ouro.

Um susto!

Uma breve alegria!

E a instigante dúvida:

Onde aconteceu?

Quando aconteceu?

Quer dizer que o seixo mágico estivera em suas mãos…

E ele não se deu conta?

Carlito, agora, já era um senhor.

Levara anos e anos na empreitada.

As pernas lhe pesavam.

Os olhos já não viam com tanta clareza.

O corpo alquebrado doía.

Que fazer?

Resignado, mas com fé, retomou a procura.

Atento ao passo e ao caminho.

Cos’è la vita se non una ricerca costante?

Encontro

Sting, 70 anos, agora em outubro.

Zucchero, 66, em setembro, dia 25.

A música como o ‘graveto encantado’ da vida.

 

 

 


 

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