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Vale o registro do pôster que me pedem alguns amigos palmeirenses, saudosos dos velhos tempos.
Posa para as lentes do fotógrafo oficial do clube, César Greco, o elenco da Sociedade Esportiva Palmeiras, legítimo e inconteste campeão brasileiro de 2022.
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Lá nos antigamente os jornais do dia seguinte publicavam, com chamada na primeira e em página inteira, a foto dos bravos campeões.
Era uma correria às bancas para obter o jornal e a imagem.
Uns a guardavam com cuidados como um documento para a posteridade.
Outros, sem medo de serem felizes, enfeitavam uma das paredes da casa com a pose dos craques em dia de glória.
Coisa dos garotos remediados e suburbanos, dos anos 50 e 60, naquele bairro operário da pujante Pauliceia Desvairada.
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Isto posto, sigamos…
Justiça se lhe faça, muito embora, desconfio, não apareça no pôster: o principal artífice dessa vitoriosa jornada é o português Abel Ferreira, acompanhado de sua dileta comissão técnica.
Ouço sempre o questionamento, especialmente dos mais novos, se Abel é o melhor técnico da notável História palestrina.
Sinceramente, mesmo com todos esses anos de arquibancada, não sei lhes dizer.
(Fora as histórias e feitos que ouvia da italianada do Cambuci, os amigos do meu pai, sobre os pioneiros heróis do Verdão.)
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Pessoalmente creio que nem cabe qualquer comparação.
Outro mundo, outro modo de viver e entender o Planeta Bola.
Qualquer juízo de valor que se faça traz inerente uma ou outra possível e desnecessária injustiça a este ou aquele ou aquel’outro.
Cada qual a seu tempo, meus caros e raros.
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Eu, por exemplo, sempre me emociono quando alguém faz referência a Ademir da Guia e à primeira Academia, aquela do gringo Dom Filpo Nunes, que encantou meu olhar adolescente com o envolvente “pim_pam_pum”. De toques rápidos, alegres e objetivos.
Num jogo contra o Vasco no Maracanã, o ponta direita Gildo marcou o primeiro gol aos 16 segundos de bola rolando. Demos a saída, rolaram para Djalma Santos que lançou Gildo – e gol. Simples assim.
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Não sei quanto tempo durou a magia.
Sei que o ponto alto dessa era foi o Palmeiras representar o Brasil no jogo festivo que inaugurou o Mineirão, em 1965.
O Palmeiras/seleção jogou com a então sagrada camisa canarinho da CBD – e derrotou o Uruguai por inapeláveis 3 s 0.
A escalação, sei de cor: Valdir, Djalma Santos, Djalma Dias, Valdemar Carabina e Ferrari; Dudu e Ademir; Julinho, Servílio, Tupãzinho e Rinaldo.
(Aliás, no meu Palmeiras dos sonhos, tem cinco jogadores dessa equipe magnífica.)
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Perdoem-me a digressão.
É inevitável a um palmeirense da velha guarda não escorregar para a memória afetiva sempre que o assunto é o time do coração.
Voltemos a falar dos tempos gloriosos que ora vivemos.
Falemos do gajo.
Ele merece,
Como disse, não sei se foi, é ou será o melhor.
Mas, de boa, não lembro outro que tenha se identificado de forma tão autêntica, tão genuína, tão visceral com o clube, sua história e sua gente.
Nesses aspectos, Abel Ferreira é único.
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Para o bem e para o mal, é um dos nossos tifosi à beira do gramado.
Fora das quatro linhas, Abel e sua comissão são racionais – e prezam estar no controle.
Trabalham, e planejam.
Planejam, e treinam.
Treinam, e acreditam no que fazem.
E nós, torcedores, vamos no embalo.
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Exemplo: o caso do menino Endrick.
Seu lançamento na equipe principal obedeceu critérios, diria, científicos e meticulosos.
Quando o jovem de 16 anos recém-completados entrou em campo, como titular na consagradora noite de ontem (vitória de 4 a 0, diante do bom time do Fortaleza), ele estava sem qualquer outro tipo de pressão senão aquela que ele mesmo se impõe: a de jogar o futebol que sabe e mostrou em todas as categorias de base pelas quais passou. Sempre como artilheiro máximo.
Endrick, me parece, é a grande atração do meu Palmeiras para 2023.
Pelo que vimos ontem, deu química o ataque formado pelo menino, mais Rony e Dudu.
Que venham, pois, os desafios da próxima temporada.
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Pois é, meus caros…
Paletrino bom da gema é assim, feito de desassossego, ansiedade e paixão.
Ainda estamos em meio às comemorações do hendecacampeonato brasileiro, já vivemos aos sobressaltos querendo saber quem vai ser o substituto do Scarpa, se o Danilo vai ser vendido, se o Dudu vai renovar ou se a CBF vai mesmo convidar Abel para suceder Tite na seleção…
Calma, turminha, calma…
Uma coisa de cada vez.
Faltam três jogos para terminar o torneio – e depois vem a tal Copa do Qatar.
Ou seja, dois meses e tanto sem ver o Palmeiras em campo.
Esta, sim, a saudade do Alviverde Imponente, será o nosso maior problema.
Preparem-se!
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Reprodução: Gazeta Esportiva
* Para os curiosos, palpiteiros e afins, a seleção dos melhores do Palmeiras que vi jogar: Leão, Djalma Santos, Djalma Dias, Luís Pereira e Geraldo Scoto; Olegário Dudu e Ademir da Guia; Julinho, Jair da Rosa Pinto, Altafini Mazzola e Chinesinho.
Do time de hoje, convocaria o Gustavo Gomes (para revezar com o Djalma Dias) e o Dudu (que numa eventualidade poderia substituir o Chinesinho).
Quanto ao garoto Endrick, vou observar mais alguns jogos para incluí-lo no rol dos eternos.
Ok, rapaziada…
Eu, como diretor técnico, desapegado de qualquer vaidade, abro espaço para o Abel e sua comissão dar uma ajudinha.
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O que você acha?