Foto: Divulgação
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A diva está em cena.
Deslumbrante.
Senhora de todos os palcos.
Movimenta-se de um lado para outro numa ágil marcação cenográfica enquanto sua voz – ah, sua voz de cristal – se faz também senhora de todos os sons, todos os timbre, todos os sonhos.
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Lá está a diva, plena, aos 36 anos de idade a inebriar o público.
Bonita, desde sempre.
Faceira, como de hábito.
Sedutora.
E intensa a abduzir para si todos os olhares, todos os quereres.
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Quando foi isso, meu Deus?
A pergunta procura acomodar, nos desvãos da lembrança, a notícia que acaba de chegar na insípida tela do celular.
“Perdemos Gal Costa…”
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Quando foi isso, meu Deus?
Repito a questão automaticamente. Agora em forma de conforto e prenúncio de saudade.
1981, arrisco.
O nome de espetáculo?
Fantasia.
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Tudo a ver.
Dias antes, durante a coletiva à Imprensa, ela foi peremptória:
“Fantasia era um sonho meu que agora posso transformar em realidade. Usar minha voz como um instrumento musical”.
– Não é mágico?
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O repórter, algo inseguro, apenas concorda fazendo que sim com a cabeça.
O show tem um repertório primoroso, de autores consagrados como Caetano Veloso, Ivan Lins, Djavan, Moraes Moreira, entre outros. Além de uma densa releitura de Canta Brasil.
“É lindo poder cantar nossa terra”.
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Tantos e tantos anos depois, ainda sob impacto da desoladora notícia, o repórter tenta lembrar trechos daquela entrevista num dos salões do hotel Maksoud Plaza, em São Paulo.
“Não, nunca estudei canto”.
“Minha voz é naturalmente colocada”.
“É certo que me cuido”.
“Não fumo. Bebo pouco. Um vinhozinho; vez ou outra, um champagne”.
“Evito tomar gelado. Fujo de ar condicionado e correntes de ar”.
“Quando não estou fazendo show, durmo o suficiente para me sentir descansada”.
“Faço ginástica moderadamente”.
“Só me trato com homeopatia”.
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Alguém pergunta só por perguntar.
“Essa é a receita do timbre único que possui?”
Gal sorri.
Diz que são cuidados especiais para manter a afinação, o canto que lhe é peculiar. Mas, a voz…
– Cantar é minha vida.
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Tantos e tantos anos depois, o experiente repórter ainda arrisca alguns textos. Busca então a palavra exata para retratar a dimensão de Gal Costa no cenário de nossa cultura popular.
É vã sua procura.
Dizer que está no panteão dos grandes, dos únicos, dos definitivos.
É pouco.
Ampara-se melhor num dos versos de Drummond que acaba de receber no zap:
“Mas, as coisas findas,
Muito mais que lindas,
essas ficarão”.
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O que você acha?