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Rolando Boldrin

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Foto: Divulgação

– O home se foi…

– Cuma é?

– O home, sô. O cantador de nóis tudo...

– Aquele prosador?

– Oié, pois. O contadô de causos...

– Que ponteava a viola de quando em vez?

Fazia uns versos também, bonitos que só…

– Deixava a galegada tudo com nó nos gorgomilos. Faltava um tantim pra nóis desaguar no choro.

Pois é, cumpadre…

– Sabia poetar. Dizem até que era ator nos tempos de moço. Fazia novela e tudo.

Ele mesmo...

– Que tem ele?

– Deu no rádio. O home se foi…

– Ah, nem se avexe, companheiro. Vida de cantador é assim mesmo. De circo em circo. Um dia aqui, outro acolá. Onde tem plateia é onde o artista está.

– O home se foi, compadre. Partiu fora do combinado, como ele mesmo dizia dos parceiros que se foram pro além.

– Ora, sô. Não me diz uma tristeza dessas. Que arrepio todo e me acinzenta o dia ensolarado.

– Pois foi. Infelizmente…

– O que vosmicê tá me dizendo… E agora, amigo?

Agora o quê?

– Como ficam as manhãs de domingo? Quem vai zelar pela nossa fala? Pelos nossos sentimentos? Quem vai ser o guardião da nossa história?

Fico lhe devendo essa. Não sei dizer, não. Agora é se segurar na saudade. Uma baita saudade do Sr. Brasil.

– Que Deus, nosso Pai, o guarde e guie na luz da santa eternidade.

– Falou e disse, cumpadre. Amém!

 A expressão “viajou fora do combinado” era marca registrada do apresentador Rolando Boldrin, que morreu nesta quarta, dia 9, aos 86 anos, em São Paulo.

Uma causo meu:

Dona Yolanda, minha mãe, pouco enxergava. Quase nada. Vultos e manchas.

Nas manhãs de domingo, acordava animada. Pedia que eu ligasse na TV Cultura e sentava-se numa poltrona ao lado do aparelho de TV . Assim, ela mais ouvia do que assistia à missa transmitida da Basílica de Nossa Senhora Aparecida, ao programa da Inezita Barroso (Viola Minha Viola) e ao Sr. Brasil, com Rolando Boldrin.

Gostava de ouvir os causos que Boldrin contava de um jeito todo dele.

– Isso, sim que é artista, dizia.

Manhãs de tempo único.

Inesquecíveis manhãs…

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