Foto: Divulgação
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Permitam-me lembrar uma historinha pessoal.
Dos tempos pré-Jovem Guarda.
Tem a ver com a primeira vez que vi Erasmo Carlos em cena.
Idos de 62 ou 63.
64, talvez? Mas, acho improvável.
A propósito ainda hoje, quando lembro a cena, é inevitável a pergunta que o tempo e o vento deixaram sem resposta.
De quem partiu a supimpa ideia?
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Explico:
Antes do sucesso que a TV ajudou a consolidar, Erasmo Carlos e Jerry Adriani – acreditem! – fizeram uma apresentação no salão nobre do Colégio Marista Nossa Senhora da Glória, onde eu estudava.
Lembro a estranheza que causou a notícia entre nós, os alunos do ginasial:
Show de rock?
O colégio era exclusivo para garotos. Éramos- quase todos, na esteira do Brasil de Pelé e Garrincha bicampeão mundial – vidrados em futebol, futebol e… futebol.
Aquela tarde de sol manso se fazia apropriada para um bom e disputado racha.
O campo de terra batida, ali, à nossa frente, à nossa espera.
E nós…
Nós, em fila indiana, rumo ao salão nobre, atrás do Irmão Fidélis, o professor.
Trocávamos olhares desconfiados como a nos perguntar?
Quem são os figuras?
Jogam onde?
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Não jogavam.
Davam seus primeiros passos na carreira artística.
Batalhavam onde quer que fosse pelo sucesso que merecidamente alcançaram meses depois.
Verdade verdadeira.
Erasmo estourou com “Festa de Arromba” e Jerry com um repertório que misturava roquezinhos ingênuos e versões de canções italianas que inundavam nossas rádios.
Mas, naquele exato dia, antes de tudo e para malbarato de ambas as partes, a dupla lá estava, algo tímida e, diria, contrariada, a compartilhar um raquítico violão e a cantar duas ou três canções que me lembre.
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Digamos que a performance de Erasmo foi mais marcante.
Ele apresentou um “vasto” repertório com as incríveis “Terror dos Namorados”, “Pescaria” e “Parei na Contramão” – esta última tocava insistentemente nas rádios na voz de um tal de Roberto Carlos, então outro jovem e promissor talento.
Jerry, por sua vez, cantou “Querida”, uma versão de “O Sole Mio” em inglês e outras mais.
Não houve qualquer interação com a plateia.
Tão silenciosos como entramos, saímos dali. Sempre de olho grande no campo de futebol.
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Puxa vida!
Entrevistei os dois cantores várias vezes ao longo de suas carreiras.
Figuras educadas e gentis.
Nunca me passou pela cabeça perguntar aos ilustres artistas se seriam capazes de se lembrar daquele supershow com o qual brindaram um bando de espinhentos e desinteressados garotos, naquela tarde que se perdeu no tempo.
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Houve uma ocasião, após uma coletiva do Erasmo, que eu até lembrei.
Mas, faltou coragem para perguntar:
“Erasmo, lembra-se de mim? Eu era um dos garotos do Colégio da Glória, no Cambuci, lembra? Você e o Jerry Adriani foram lá fazer um grande show, lembra? Então me diz: de quem foi a ideia?”
Sei não, melhor que deixei quieto.
Que permaneça o mistério.
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O que você acha?