Foto: Lucas Fernandes
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Resenha da Copa (6)
Torcida amiga, bom dia (*)
Quem me acompanha nos versos de um antigo samba que diz:
“Quero chorar
Não tenho lágrimas
Que me rolem nas faces
Pra me socorrer…”
Serve como consolo, mas não justifica a desclassificação da seleção brasileira da Copa do Qatar.
Vitória histórica da Croácia nos pênaltis.
Confirmado, assim, o melancólico fim da era Tite no comando do escrete.
Fim da era Neymar?
Talvez sim. Talvez não.
Nem o próprio sabe…
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Meus camaradas, virou a mais triste das rotinas.
E lá se vão 20 anos…
Desde 2002, com a Família Felipão, não levantamos o caneco.
Na próxima Copa, em 2026, bateremos nosso recorde negativo pós-1958.
Estaremos há 24 anos sem a principal conquista da taça do mundo que era nossa.
Lembram-se?
Ganhamos magnificamente em 1970 com Pelé, Tostão e outros inesquecíveis.
Depois, mermão, só no arrepio dos pênaltis em 1994.
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Vou ser sincero.
Essa seleção nunca me encantou.
Nossos santos não batem.
Não sei explicar.
Mesmo assim, num certo momento, com o desenrolar dos jogos, o chaveamento que se apresentava favorável a nós, pensei cá comigo: pode dar samba.
Pedreira, pedreira mesmo seria pegar a França de Mbappé na finalíssima.
O time é bom, e o garoto é encrenca.
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Nas minhas vãs e aleatórias previsões, o pragmatismo de Tite e a individualidade de boleiros como Neymar, Vinicius Jr, Casemiro e afins seriam suficientes para vencer na sequência Coreia, Croácia e Holanda ou Argentina.
Mesmo sem me convencer, a sensação era de que poderíamos levar o caneco.
Eu, por empatia e porque sou muito sentimental, talvez acompanhasse a felicidade das pessoas ao meu redor entusiasmadas com a virtual possibilidade do hexa.
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No meu tempo de crônica esportiva, lá nos antigamente, o Nasci nos provocava no embalo da nossa pseuda erudição futebolística.
Dizia que a molecada da editoria de Esportes era “engenheiro de obra pronta”.
– Aprendam! A técnica e a tática são variáveis que podem e devem ser discutidas, com equilíbrio. Quase tudo no futebol se deve ao imponderável, às circunstâncias, ao acaso.
Nasci era um veterano jornalista.
Gabava-se de ser o comandante de um dos primeiros programas esportivos na TV Record em meados dos anos 60.
Ele sabia das coisas.
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Leio, ouço e vejo a inevitável enxurrada de críticas nas redes sociais e na imprensa.
Até concordo com muitas.
Outras, nem tanto.
“Pão ou pães é questão de opiniães”. (Guimarães Rosa)
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Uma coisa que cabe a todos que orbitam nesse lindo (por vezes, entristecedor) universo do futebol entender é:
Não somos mais o País do Futebol há tempos.
Temos bons jogadores que se destacam INDIVIDUALMENTE mundo afora.
Porém e, como dizia o saudoso Plínio Marcos, sempre existe um desconsertante porém:
Não conseguimos formar um time_time.
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Tem um borogodó peripatético, existencial e anímico que, na hora do vamos ver, põe tudo a perder.
Pode ser geracional?
Pode ser o trauma da boleirada pós-2014?
Pode ser o fuzuê das redes sociais?
Os maneirismos de celebridade que muitos buscam?
(Esquecem que a razão de tudo é a santa bola.)
Não sei.
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O que sei é que esse tal borogodó não escala o time, não chuta as bola, não bate pênalti, mas atrapalha pra caramba.
Afinal, dizia o Nasci, resumindo nossos tolos debates:
“O futebol é metáfora da vida”.
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(*) “Torcida amiga, bom dia”. Assim o saudoso jornalista Ary Silva começava sua coluna diária sobre futebol no jornal “Diário da Noite” por longos anos. Minha reverência ao mestre e primeiro presidente da Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo.
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O que você acha?