Foto: Arquivo Pessoal
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Já vi as cenas desse filme dezenas de vezes.
Em cenários distintos, eu diria.
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Cenas?
Quais?
Filme?
Do que fala o desatinado cronista?
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Calma, açodado leitor e ó doce leitora, eu lhes explico.
É o encontro a pedra de toque da crônica de hoje.
Diria que vamos começar a semana romanticamente.
O que acham?
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Venham comigo.
Entremos nessa loja de departamento daquele pequeno shopping da cidade.
Reparem discretamente naqueles dois funcionários,
Isso mesmo, o rapazote e a moçoila.
Estão atarefados com os arranjos das roupas.
Tudo aparentemente dentro dos conformes.
Vez ou outra atendem um cliente ou outro.
Vão e voltam de acordo com o que determina a necessidade.
No entanto, amigos, vejam como ele se olham. Um está sempre no radar do parceiro- e vice e versa.
Percebam o clima.
Vejam como sorriem um para o outro, o outro para um.
E como se procuram para conversas e… conversas.
Love is in the air.
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Venho ao shopping quase todos os dias.
Dou uma espairecida no café em frente à loja.
Da mesa onde costumo me aboletar, tenho ampla visão do que se passa pelos arredores, inclusive do suposto casal que, intuo, oficialmente ainda não é um casal. Mas, pode vir a ser.
Se é que me entendem.
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Ah, a paixão…
A paixão é um acontecimento.
Um raro momento de encanto na vida de cada um.
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Ok, ok, ok…
Tenho uma tendência a ficar imaginando coisas. Ideinhas, suposições, enredos para um novo/velho texto.
Tudo isso é mais do que certo.
Mas, vamos lá, quem de nós não gosta de uma comédia-romântica com final feliz?
Mesmo que seja só para esticar o fim de noite na programação de uma dessas Netflix da vida?
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Matéria de memória.
Naquela ídilica redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor, instituímos uma confraria de olheiros para a fiel e saborosa observação de tais fenômenos.
Não vou dizer que éramos especialistas contumazes no assunto.
Mas, digamos, estávamos atentos e nos divertíamos bastante.
Tínhamos até uma expressão como senha para identificar a situação.
“Olha lá, começou a dança do pavão”.
Dança do pavão – e explico o porquê.
Era quase sempre o rapaz que não se continha e vinha de mansinho rodear a moça.
Esta, por sua vez, era mais contida. Ficava na dela e correspondia as idas e vindas com sorriso e olhares.
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Curioso.
O quase-casal nunca percebia que estavam em nossa mira.
Eles imaginavam passar despercebidos pelo resto da turma.
Acreditavam-se pia e tolamente perfeitos em seu segredo. E nas desculpas jogadas ao vento em meio ao corre-corre do dia.
– Alguém quer tomar um café?
– Vou descer até oficina para ver a quantas anda o fechamento da edição. Quem vai comigo?
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Justiça se faça.
Éramos solidários.
Quando algum desavisado se dispunha a atrapalhar os planos anunciados pela dupla, tascávamos um serviço urgente para o incauto e o tirávamos do trelelê.
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Numa ocasião, o amigo Marceleza veio nos visitar.
Acompanhou uma dessas cenas e logo matou a charada.
No seu carioquês habitual, não deixou por menos assim que os apaixonados saíram para o tal e suposto café da tarde:
“Meus queridos, eu diria que aqueles dois estão subindo as escadas de um imaginário tobogã. Ao chegarem lá em cima, só haverá um jeito de descer… É se jogar e ver no que dá”.
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A bem da verdade, entre nós, os confrades, sempre fomos favoráveis ao ‘love is in the air’.
Afinal, ponderem comigo, não é todo dia que deslumbres assim acontecem.
Nessas horas, o mestre Nasci, o mais experiente entre nós, tinha um olhar nostálgico e palavras bonitas para definir a magia do encontro:
“Não há nada mais bonito que um jovem sonho de amor”.
Depois, concluía com certo pesar:
“Já fui bom nisso!”
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Nota do Autor bisbilhoteiro:
Sobre os pombinhos do shopping, vamos deixá-los na lida por enquanto. Se por acaso der match, prometo voltar para uma nova crônica.
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VERONICA PATRICIA ARAVENA CORTES
5, abril, 2023Você continua o mesmo, um romântico