Foto: Arquivo Pessoal
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Fiquei surpreso com o tanto de mensagens carinhosas que recebi ao registrar o aniversário da Gazetinha no post de 26 de abril.
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Minha primeira sensação é que, assim como este insistente escrevinhador, muitos dos amáveis cinco ou seis leitores andam numa fase, digamos, lavada e enxaguada numa doce nostalgia.
Bem verdade que os primeiros a se manifestarem foram amigos-parceiros daqueles idos tempos.
Waltão, o dublê de fotógrafo e faz-tudo da turma, se disse emocionado, “com as lembrança que a crônica lhe proporcionou”.
O sempre_ vereador Almir Guimarães foi mais sensivelmente objetivo em sua análise:
“A verdade é que todos saímos da Gazetinha, mas a Gazetinha nunca saiu do coração da gente”.
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Outro pioneiro, o Escova, repórter embaçado, observador, de textos curtos e objetivos, fez uma reverência ao saudoso Tonico Marques, o notável jornalista que nos recepcionou quando a redação ainda era na rua Lino Coutinho.
Grande lembrança.
Vale reverenciá-lo.
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Marcão comandava o dia a dia da redação à distância.
Quer dizer, na sala ao lado.
Digamos que era uma espécie de supervisor. Um consultor sempre à nossa disposição.
Se não era chamado, não se envolvia.
Bem a seu modo fazia uma avaliação do jornal depois de pronto.
Só depois nos cobrava eventuais equívocos e vacilos.
Não dava bronca.
Suas valiosas observações primavam pelo humor.
Até por isso mesmo, inesquecíveis.
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À época, Marcão tinha 60 e tantos anos.
Dono de um texto delicioso, com análises interessantíssimas sobre os fatos da semana, conseguia juntar os assuntos de forma única. E igualmente bem-humorada.
Por vezes, abusava das ironias.
Era um talento raro. Na linha do incrível Stanislaw Ponte Preta, uma referência sempre citada por ele.
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Detalhe.
A coluna só circulava entre nós, os repórteres e os agregados da redação.
Eu, o Escova, o Nasci, o próprio AC (filho do Marques e chefe da Redação) cobrávamos sua presença diária entre nós.
Gostaríamos de vê-lo na ativa.
Realçávamos a importância dos impecáveis e oportunos textos com que nos brindava quase que diariamente.
Mas, o velho e sábio jornalista se negava a publicá-los.
Preferia ficar na dele.
“Escrevo para não perder o jeito. Também para provocar vocês”.
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Anos 70. Vivíamos um truculento regime ditatorial.
Censura comendo solta.
Fim da ilusão do tal Milagre Econômico delfiniano.
O País à deriva.
Não havia lá grandes perspectivas de melhora.
O Mestre não queria comprometer o jornal. Andava desalentado com os rumos do país. Mas, do jeito dele, não queria nos contaminar com pessimismo ou coisa do gênero.
Se havia uma esperança, dizia ele, esta estaria nas mãos das novas gerações.
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Novas gerações?
Nós éramos as tais e as quais.
Que responsa!
“Agora é com vocês. Jornalismo se aprende fazendo no calor do fogo da fornalha”.
Era o jeitão que ele tinha de nos dar liberdade e asas para voar.
“Já fiz a minha parte. Corri meus riscos. Errei e acertei. Passo o bastão. Agora é com vocês. Deem voz e vez a quem mais precisa. Que tudo terá valido à pena”.
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Compartilho com vocês, amigos leitores, o que disse ao Escova em nossa conversa.
E acrescento:
Quando fui para a Universidade, de alguma forma, tentei repetir o Marcão em minhas aulas.
Nos 20 anos que andei pelos diversos campi, sempre me guiei por esse prisma.
Passar o bastão pra garotada.
Ainda hoje não sei se me entenderam.
Também nunca tive o talento do Velho Marques.
Mas, acreditem, fiz o que me foi possível fazer.
Só insisto em continuar escrevendo.
É o meu jeito de viajar no feliz.
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Uma dolente canção pra nos embalar no mês que se inicia…
O que você acha?