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Amar e mudar as coisas

Alguém me pergunta qual a trilha sonora do nosso tempo.

Falávamos sobre o triste episódio de racismo vivido pelo brasileiro Vinícius Jr.

Lamentávamos.

Mais ouvia do que falava.

Não raras vezes, o silêncio tem sido o esteio da minha indignação.

Por vezes, me parece, que tudo já foi dito e redito.

Todos os alertas foram feitos.

Zilhões de vezes.

Quem não ouviu/ouve, sinceramente, não quis/quer ouvir.

Sente-se bem assim.

Seja onde for. Aqui, lá e/ou acolá.

Faz parte do amplo espectro das misérias e boçalidades humanas, inconcebíveis no século 21.

Enfim…

Mas, dizia-lhes que conversávamos e eu, com breves monossílabos, endossava e aplaudia a revolta da turminha.

Que, diga-se, está mais na idade de revoltar-se do que este combalido escriba.

Foi exatamente neste ponto que, de sopetão, veio a pergunta.

(Talvez me cobrassem maior participação no papo.)

A trilha do nosso tempo?

Não sei se é exatamente deste atualíssimo tempo.

Mas, lembrei-me daquela canção do Belchior, com a qual desde sempre me identifiquei.

Chama-se “Alucinação”.

,,,

Ouso dizer que os versos bem traduzem o ideário de quem tinha lá seus vinte, vinte e poucos anos na transformadora década de 70.

Foi com ela que o cantor/compositor cearense, de saudosa memória, batizou seu disco de estreia da Polygran (desconfio que em 1976) e assim alcançou o grande público.

Mais do que o merecido sucesso, Belchior abriu as portas para autores da chamada geração de briga (Alceu Valença, Ednardo, Fagner, Ivan Lins, João Bosco, entre outros) frequentarem o espaço nobre da MPB naqueles idos, regidos pelo tacão da censura e do obscurantismo.

Hoje, creio, também vivemos um tempo de opressão.

Só não sabemos, muitas vezes, de onde vem – e, pior – para onde vai.

Não sabemos quem são os algozes e quem é por nós.

Um solavanco a cada esquina, a cada quarteirão.

Vivendo e aprendendo.

A letra de “Alucinação” é o manifesto de uma geração que acreditou no sonho e na mudança.

Talvez por isso tenho a sincera impressão que a temática permanece atualíssima, e necessária.

Que a meninada faça mais e melhor!


Concluindo:

“Amar e mudar as coisas me interessam mais.”

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