Foto: Arquivo Pessoal
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Outra da série Lembranças de um repórter…
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“Leve seus pais. Aproveite! Você está credenciado. Eles vão gostar. A italianada sabe se divertir.”
Era o Herculano, presidente da Associação de Calabreses do Ipiranga a me convidar para a festa típica no sábado à noite, nas gloriosas dependências do Colégio São Francisco Xavier.
Achei que poderia ser uma boa.
O pai e a mãe quase não saíam de casa. Embicavam os 70 e muitos e sempre se orgulharam das origens peninsulares. Poderiam se entreter um bocadinho junto a outros oriundi como eles, degustar uma boa pratada de talharim a bolonhesa, lembrar velhas canções e, quem sabe, até rever alguns amigos, desses que o tempo e a vida nos afastam e, de repente, reaparecem do nada, por encanto.
Enquanto isso, eu faria meu trabalho de repórter numa boa.
Não atrapalhariam em nada.
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Tudo nos conformes.
Fomos à festa que, no ato e no formato, era italianíssima. Ruidosa, espontânea, como não poderia deixar de ser. Parecia que todos ali haviam desembarcado naquela noite no Brasil vindos da Velha Bota.
Não lembro se a música estava por conta do Maestro Záccaro e orquestra ou do cantante Fred Rovella e suas ‘tarantelosas’ bailarinas, vestidas a caráter. Inclusive, de pandeirinho na mão.
Lá pelas tantas chegou o então deputado Alex Freua Neto e foi saudado com pompas e circunstâncias.
Era a celebridade do encontro.
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Herculano me pediu para que o entrevistasse sobre tão magnífico evento.
Mal me posicionei diante da autoridade – e ouço um assovio estridente e alguém a chamar em alto e bom som:
“E aí, Escândalo!!!”
Reparei no assombro do parlamentar. Mas disfarcei e, sem demora, tasquei a primeira pergunta. Também interrompida por ouro assovio e outra saudação:
“E aí Escândalo! Quem diria? Virou doutor, hein!”
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O deputado levantou-se da cadeira.
Intrigado. Fez um gesto para que um de seus assessores saísse em busca do homem do grito perturbador.
Não foi preciso.
Meu pai, o Velho Aldo, já se introduzira na roda de repórteres e, numa intimidade surpreendente, foi, de pronto, abraçado pelo deputado. Riram que riram e se olhavam como se o tempo houvesse parado naqueles idos em que ambos, giovanettos de tudo, batiam sua bolinha no Atlantic ou, madrugada adentro, perambulavam pelas quebradas e vielas do Cambuci em homéricas gandaias, as baladas de então.
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Ao que me foi dado entender, o pai sempre foi o Aldo, vida afora o Aldo, filho do alfaiate Rodolfo, irmão do Orlando que tomou chá de sumiço. E nunca mais se soube dele.
Já o Alex era o Escândalo por motivos que não nos foi dito ou sabido, mas que ambos gostaram de relembrar naquele adorável segredo que só os grandes amigos costumam guardar.
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O que você acha?