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Na fila do pão

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Foto: Reprodução

Encontro ao acaso o Luciano na padaria. Mais propriamente na fila do pão.

Não nos vemos desde antes da pandemia.

Um surpresa o reencontro.

O amigo, com ares de bufão, me saúda em alta voz – e me anuncia aos jovens atendentes do balcão como se ali chegasse uma personalidade:

“Esse aqui (que era eu) é um dos ícones do jornalismo brasileiro.”

Sinto que os olhares de balconistas, padeiros e as pessoas da fila do pão recaem sobre mim, como se ali chegasse algum ser de outra galáxia, algum global ou coisa que o valha.

Desnecessário dizer que fico constrangido.

Mas, só por alguns segundos, logo percebo o ar de decepção e indiferença da turma.

Ouço, entretanto, alguém mais distante, curioso, perguntar, talvez em tom de gozação:

“É o Datena, é?”

E outro alguém responde objetivamente:

“Não. É só aquele senhor de chapéu e barba grande.”

Indiferente ao zunzunzum Luciano, ainda em voz alta, quer saber o que ando fazendo.

“Escrevo”, digo em voz baixa para não chamar ainda mais a atenção.

O amigo dá por encerrada a conversa. Vai para o outro lado da padoca em busca do jantar para a família.

“Uma sopa nesse friozinho cai bem, né?”

Balanço a cabeça aprovando a sugestão.

Ele se afasta – e me vem a sensação de que a vida volta à rotina, fluída e morna. Sem mais aqueles breves flashes de um passado não tão distante quando eu, o Luciano e uma penca de bons amigos ainda andávamos pelo campus da Universidade repletos de planos, querências e sonhos.

O futuro da Comunicação Social passava por nós.

Vã e tola ilusão.

Mesmo assim, bateu uma imensa saudade do Paulão, do Márcio (que partiram antes do combinado). Amigos queridos.

Imaginei os tantos e tamanhos que andam por aqui e por ali. Resistindo e insistindo em ser feliz.

Com estão?

Bateu a dúvida:

Seria legal um reencontro?

Sei não.

Talvez.

Tudo tem um tempo certo para acontecer e, como esse encontro ao acaso, desacontecer.

Quem sou eu na fila do pão?

Aquele senhor de chapéu e barba grande. Que resiste e traz em si todos os sonhos do mundo.

Sigamos…

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