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Papo estranho

Foto: Facebook do Nestor

– Você escreve sobre política, afirma o senhor em tom desafio.

Custo a reconhecer.

Ele desconfia do meu espanto – e, por conta e risco, trata de me reavivar a memória.

Trabalhou por uns tempos na administração do jornal, não éramos lá tão próximos, reconhece, mesmo assim colegas e, agora nesse reencontro ao acaso, resolveu puxar conversa.

Diz que está feliz em me ver bem.

Demoro uns instantes, mas lembrei-me da pessoa; não, do nome.

Beto, Roberto, Alberto, tinha um joão Roberto?

Não sei.

Melhor não arriscar.

Será que é leitor do Blog?

Tô achando tudo estranho.

Perdi o jeito (se é que tive algum dia?) para os perdidos e inesperados que a vida nos apronta..

Melhor ser cauteloso.

Sei onde essas conversas podem parar em tempos tão sectários como os que hoje vivemos.

Não tenho mais idade para confusões.

Não tenho seguidores, não gosto de ser seguido e perseguido. Por isso – e otras cositas más – não aventuro nas tais redes sociais.

Ele insiste:

– Escreve ainda? Sobre o quê?

Eita.

Que agora me encalacrei.

Se ele lê o Blog sabe que escrevo.

Se não lê…

Saio pela tangente. Dou uma resposta evasiva:

“Escrevo. É minha sina…”

– E o jornal, como está? Tempos difíceis, né? A internet tomou todos os espaços…

Gente do céu, o que é a natureza?

Só agora começo a entender que meu quase-amigo, o tal que elaborava a folha de pagamento na velha redação decididamente não é leitor do Blog e mal sabe ele que estou longe das redações há longos e longos anos.

Não sei o que lhe dizer.

Se apresento-lhe o Blog ou… passo batido?

Estou desconfortável na parada.

Melhor mudar a estratégia.

Tomo a palavra. Pergunto como ele está, por onde andou, o que anda fazendo e tal e cousa e lousa e maripo(u)sa.

Ele sorri satisfeito pelo meu interesse e conta que está aposentado, mas ‘corre atrás do ouro’ fazendo corretagem de imóveis.

– Vez ou outra levanto um troquinho bom.

De repente, lá vem ele com mais pergunta:

-Tem notícias dos amigos daqueles tempos?

Poucas, digo no automático.

Falo com o Almir por zap. De quando em quando com o Waltão, mais raramente com o Maucir… Quem sabe um dia a gente marca um café, certo?

– Boa, boa, mas e aí? Você ainda escreve sobre política?

“Às vezes”, respondo já me despedindo, pra encontrar a conversa.

Ele também faz menção de sair de cena. Antes, porém, na maior desfaçatez, deixa o recado que, desconfio, queria me passar desde o início do papo:

– Desista. Hoje em dia é inútil. Cada qual vem com sua verdade pronta, lacrada e embalada. O pessoal só lê sobre futebol e celebridade.

Preferi não tocar o assunto em frente. Apenas me despedi, com um aceno e à distância.

Dá o que pensar.

O que acham?

No bojo das solenidades protocolares do 35° aniversário da nossa Constituição Federal, ainda há um longo caminho a ser percorrido para a construção de um Brasil contemporâneo, justo e de todos os brasileiros.

Ainda nenhum comentário.

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