Foto: Ipanema/Rio de Janeiro. Tomaz Silva/Agência Brasil
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Queria ter a habilidade do meu primeiro editor, o saudoso_mestre Tonico Marques, para enfeixar numa só coluna os principais acontecimentos – e assim trazer aos amigos do Blog um conciso panorama do dia com toques de inteligência, humor e picardia.
Ele era um contumaz crítico das convenções sociais e dos poderes contituídos.
“Se hay gobierno soy contra” – dizia bem ao estilo dos anarquistas.
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Passo longe da categoria do Mestre.
Era originalíssimo ao desvendar, nos meandros dos fatos, aspectos que, à primeira vista, raros conseguiam enxergar. Fosse qual fosse o assunto, o Marcão, como o chamávamos na velha redação de piso assoalhado, pinçava o incomum e o absurdo das cenas do cotidiano.
Valia para o Brasil. Valia para o mundo.
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Fico imaginando o que escreveria sobre os dias insanamente acalorados como os que hoje enfrentamos. Desconfio que inventaria um neologismo divertido para descrever como os cariocas estariam suportando a sensação térmica recorde no ano, de 58 graus centígrados, enquanto, por aqui, paulistanos de todas as cepas ficariam na dúvida entre clamar aos Céus um tanto de chuva para abrandar a temperatura ou se agradeceriam a semana sem as devastadoras enchentes e inundações.
Ainda nessa pauta, o meio-ambiente, ele destacaria o nonsense da seca no Amazonas e o tsunami que dias atrás devastou o litoral da cidade de Laguna, cidade de Santa Catarina.
Marcão, ainda nos anos 70. manifestava grande apreensão com a explosão imobiliária em bairros, amplamente residenciais como o Ipiranga, e a questão da poluição ambiental.
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Meu amigo e editor era um humanista.
Certamente condenaria implacavelmente todas os conflitos que se espalham mundo afora.
“Todos perdemos com as guerras – dizia. “Aconteça onde acontecer. Só a inescrupulosa indústria armamentista e seus atravessadores mundo_afora se dão bem.”
Sábias e, desde sempre, verdadeiras palavras.
Só nos primeiros 30 dias deste desumano combate entre Israel e Hamas foram consumidos o equivalente em 52 bilhões de dólares.
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Penso também que o Marcão seria um defensor implacável pela urgência do cessar fogo em Gaza.
Bateria firme para que a ONU transformasse em realidade a pausa humanitária que acabou de aprovar em reunião do Conselho.
Em pleno século 21, é uma monstruosidade constatar que essas tragédias ainda aconteçam.
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Passo longe da categoria do Mestre, já disse.
Mas, como ele, me é devastador saber que, entre as milhares de vítimas destes embates torpes, estão milhares e milhares de crianças.
Mesmo ateu, Marcão ressaltava sempre:
“São as crianças que nos aproximam do Divino. Se não cuidarmos delas, não haverá futuro para o Planeta e para a Humanidade.”
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O que você acha?