Foto: Academia Brasileira de Ciência/Divulgação
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Publicado originamente em 04/12/2018
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A primeira entrevista pra valer, a gente nunca esquece.
Esquece?
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Olaiá.
Eu esqueci.
Só lembrei dia desses, quando dei uma arrumação geral, aqui, no meu canto da bagunça. Encontro colado em uma folha sulfite esmaecida pelo tempo o recorte da minha primeira matéria publicada. Foi em abril/maio de 1974, no Boletim da Agência Universitária de Notícias (AUN), da Escola de Comunicações e Artes da USP, onde estudei.
Olhem a pretensão do rapaz, caros leitores,
Aceitei a pauta sobre o experimento nuclear na Índia, com a explosão de uma bomba atômica numa região deserta, próxima à fronteira com o Paquistão.
É mole ou precisa mexer?
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Se bem me recordo agora, cheguei atrasado à aula do professor Paulo Roberto Leandro que distribuía os exercícios de texto para os estudantes, com pautas sobre os acontecimentos da semana, que repercutiam na Cidade Universitária.
A pauta que, imagino, ninguém quis sobrou pra mim.
Sugestão: “entrevistar o professor José Goldemberg, diretor do Instituto de Física da USP, sobre o referido tema”.
É pegar ou ficar sem nota?
E, bisonhamente, lá fui eu.
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O resultado, transcrevo abaixo a título de curiosidade e (suposto) registro documental.
Há quem diga que exatamente neste momento eu deveria ter desistido da carreira.
Mas, o saudoso professor Paulo Roberto, generoso que só, aprovou o texto com as devidas correções e o publicou – e eu, teimoso, segui em frente.
Leiam!
(Se tiverem tempo e coragem)
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Brasil, futura nação atômica?
A surpreendente explosão nuclear indiana, com objetivos “pacíficos”, no deserto de Thar, próximo à fronteira do Paquistão, seu ex-inimigo, ressoou no mundo inteiro como uma afirmação da Índia, como uma nação desenvolvida. Pois com isso ela é o novo membro do Clube Atômico ao lado de Estados Unidos, União Soviética, França, Inglaterra e China.
Falando sobre as consequências da recente experiência, o professor José Goldemberg, titular do Departamento de Física da USP é de opinião que:
– A experiência indiana pode encorajar os países do Terceiro Mundo a seguirem os mesmos passos. Israel, Argentina, Paquistão poderão ser os mais novos sócios do Clube Atômico. É um desenvolvimento lamentável, mas difícil de se impedir.
O Stockolm Internacional Peace Research Institute, em seu estudo de 1972, considera que o Brasil será um dos 15 países que, proximamente, passarão o status de nação nuclear.
– Mas, o Brasil não tem condição de construir armas nucleares – afirma o professor Goldemberg. – Pois usa o urânio enriquecido que é importado e sujeito aos controles internacionais que impedem a transformação em plutônio, indispensável para as armas nucleares.
Do mesmo modo que a Índia, a China e a França, o Brasil não ratificou o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, mas está sob a fiscalização da Associação Internacional de Energia Atômica que limita e impede o armazenamento do plutônio com fins bélicos.
OS REATORES
E A PESQUISA
Na opinião do professor, as pesquisas em Física e Química nucleares, desenvolvidas nas principais universidades brasileiras, alcançam resultados expressivos. O embasamento científico compensa as experiências com reatores caros e difíceis, que ainda necessitam de um programa mais efetivo e de maiores dimensões.
Um Centro Nuclear em funcionamento ainda não existe no Brasil. A cidade de Angra dos Reis será, em 1977, a sede do primeiro reator que obterá a produção de energia elétrica que já está sendo construído e montado. Outro está previsto para 1982 no mesmo local.
O Brasil conta atualmente com três reatores de pesquisa, de menor potência. O maior deles encontra-se no campus da USP, no Instituto de Energia Atômica.
MUITAS UTILIZAÇÕES
A energia atômica não deve ser confundida unicamente com a finalidade de criação de armas nucleares. E também não só com o seu controle para obtenção de energia elétrica. Tem outras funções que as pesquisas conseguiram determinar na Medicina para tratamento de tumores (cobalto-terapia) e diagnósticos. O Hospital das Clínicas da USP é um dos que usam este método especialmente no campo da cancerologia.
Na Agricultura, a sua utilização no tratamento da terra já é estudada em Piracicaba pelo Centro de Estudos Nucleares de Agricultura. Além da indústria, quando é utilizada no campo da qualidade da radiografia industrial, apesar de ser pouco explorada no Brasil.
A energia nuclear como propulsão para navios já é utilizada há algum tempo em substituição aos tradicionais motores diesel. Três países – os Estados Unidos, União Soviética e Grã-Bretanha – possuem navios que usam reatores no lugar dos motores. Os Estados Unidos projetaram um navio mercante – o Savannah – que utilizou este tipo de propulsão, mas os resultados não foram esperados.
– Hoje, cerca de 10 anos após o lançamento, o Savannah demonstra ser uma experiência completamente anti-econômica – diz o professor José Goldemberg.
Para o professor Célio, de Tecnologia da Construção Naval da Escola Politécnica da USP, esses navios justificam-se apenas para fins bélicos e não oferecem uma segurança comprovada.
– A autonomia que propiciam às viagens marítimas é enorme quando comparada com os motores diesel. O submarino Nautilus conseguiu fazer uma circunavegação inteiro, sempre submerso, sem necessitar reabastecimento em nenhum porto e sem mesmo subir à tona para completar o estoque de ar, indispensável para abstecer os motores à explosão. Mas, o custo é muitas vezes superior, o que somente possibilita o uso pelas maiores potências e, mesmo assim, como vasos de guerra.
DÉFICIT ENERGÉTICO
A capacidade instalada do potencial hidroelétrico do Brasil é 15 milhões de quilowatts. A construção da Usina de Itaipu dobrará esta potência. Angra dos Reis, com seus reatores, e o total hidroelétrico serão suficientes para abastecer, principalmente a região centro-sul do país. Mas, a partir desta data, deveriam ser instalados de 10 a 20 reatores nucleares que deverão produzir aproximadamente 10 milhões de kW.
Há o risco de um déficit energético.
Para o professor Goldemberg, o Brasil deve agir rapidamente para evitar que isto ocorra:
– Mesmo assim, a energia produzida em Angra dos Reis será insuficiente. Os recursos hidroelétricos da região centro-sul estarão com a capacidade máxima de aproveitamento já em 1982. Não haverá outra possibilidade de se obter energia, a não ser por meio de reatores nucleares. A questão em debate é a compra é a compra desses reatores no Exterior ou se devemos encorajar a indústria nacional a participar de seu projeto e construção.
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TRILHA SONORA – 1974
O que você acha?