Foto: Arquivo Pessoal
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Deixem que eu lhes dê um bastidor antes de continuar com as peripécias dos meus 50 anos de jornalismo.
Seguinte.
Nos idos da década de 70 quando comecei, a profissão de jornalista era mal_e_mal reconhecida como categoria profissional. Verdade verdadeira. Éramos uns estropiados que vivíamos enfurnados nas fumegantes redações (quase todo mundo fumava enquanto batucava insanamente as ruidosas máquinas de escrever) ou nas ruas atrás da notícia nossa de cada dia.
Precariamente remunerados, a profissão não exibia qualquer verniz social.
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Jornalista, em sua grande maioria, perambulava pelos jornais e revistas impressos, com hora para entrar e nunca para sair do trabalho que se estendia madrugada adentro.
De quebra, levávamo a fama de boêmios, inconstantes e… pouco confiáveis.
“Veja lá o que vai dizer. O cara é jornalista.”
Na verdade, o trampo era pesado – e, quase sempre, desvalorizado por tudo e por todos.
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Um retrato verossimil da época é o seriado Plantão de Polícia que a Globo levou ao ar em meados dos anos 80, com os saudosos Hugo Carvana e Marcos Paulo como protagonistas.
Narrava ‘a história de Waldomiro Pena, o último dos repórteres policiais românticos.
É coisa mais ou menos recente o profissional de Imprensa se tornar um pimpão apresentador de programa ou um dileto comentarista, ostentando ternos bem cortados, com acesso às altas rodas do poder.
Não lamento, apenas registro o contraste para a devida contextualização.
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Isto posto, volto à minha saga.
Meu primeiro emprego, de carteira assinada, foi mesmo em Gazeta do Ipiranga.
Foi mesmo um grande aprendizado.
Pude acompanhar (e entender) todo o processo da feitura de um jornal. Da discussão da pauta ao momento em que a página riscada, diagramada e pronta é encaminhada às rotativas para ser impressa.
Havia certo encantamento, para nós, retirar os primeiros exemplares da edição, cheirando à tinta, na esteira da ruidosa máquina.
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Comecei como “redator-estagiário” e, quatro anos depois, por força das circunstâncias, passei a editor e diretor-responsável da Gazetinha.
Tinha 27 para 28 anos.
Simultaneamente colaborei em diversas publicações de âmbito nacional (Agência Estado, Jornal da Tarde , revista Afinal, Shopping News, Gazeta FM, Jornal da Orla e outros muitos).
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Não havia tempo ruim.
Nas diversas redações em que trabalhei, frilando, fazia o que pintasse: pautava, reportava, redigia, coppydeskava, diagramava, revisava, fazia secretaria gráfica, o que pintasse.
Tudo em troca de uns trocos que ajudasse a fechar as contas do mês.
Cheguei inclusive a montar um jornal de bairro na Mooca.
No entanto, quando me perguntam, reconheço sempre: foi mesmo pelas plagas históricas do Ipiranga que fundeei sonhos, expectativas, trabalhos mil, amizades, aprendizagem e a luminosa esperança em dias melhores, repito, para todos os brasileiros.
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“Que o povo saia às ruas… E tome para si o destino da Nação”.
Foi esse o editorial do jornal (homenagem/referência ao meu primeiro editor, jornalista Antônio de Oliveira Marques) que escrevi na edição imediatamente anterior ao 15 de novembro de 1989.
Voltávamos às urnas para escolher o presidente da República pelo voto direto e universal, após 30 anos de arbítrio e autoritarismo.
Democracia se faz com cidadania e solidariedade.
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LEIAM TAMBÉM:
Um jornalista às margens do Ipiranga
por Leila Kiyomura/ Jornal da USP
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