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O italiano

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Brasil e Itália celebram hoje o 150° aniversário da imigração italiana.

Em 21 de fevereiro de 1874, o navio “La Sofia” chegou ao porto de Vitória, no Espírito Santo, trazendo os primeiros 380 oriundi que se estabeleceram em nosso país.

O Congresso Nacional reconheceu a data como o Dia do Imigrante Italiano.

Pois é…

Meus claros e preclaros, tenho hoje que falar dos meus.

Sou de ascendência italiana, capiche?

Dos dois frondosos ramos da família.

Por parte da vó Inês, a mãe da minha mãe, os Chisolini se orgulhavam em dizer que vieram de Mantova e de Florença.

Já o chapeleiro vô Carlito,o pai da minha mãe, embora nascido em Cascatinha no Rio de Janeiro, contava que seus antepassados, os Avezzani, vieram de Nápoles.

Por parte do meu pai, a coisa era mais simplória.

Martinos e Leones aqui aportaram no início do século 20, vindos da Calábria.

Era só o que diziam.

E só o que se sabe ainda hoje.

O norte e o sul da Velha Bota têm lá suas diferenças.

Digamos que os de cima se consideram mais ricos e cultos e belos enquanto os do sul são mais rústicos e turrões e belos.

Toda vez que o pai fazia das suas, não era raro a mãe ralhar e soltar o comentário nada lisonjeiro:

– Ah, calabrês, foi o diabo que te fez.

Como o Velho Aldo aprontava muito e estava sempre em dívida com a Dona Yolanda, o Calabrês nada dizia. Sorria apenas e deixava  vida seguir naturalmente.

E assim a vida seguia.

Ô saudade!

Demorei um tempo para me reconhecer como “um italiano que nasceu no Brasil”, como dizia o pai.

Quando menino – mesmo jovenzinho – lá no bairro operário do Cambuci, sempre estranhei a emoção, as lágrimas e o embargo na voz do pai e dos italianos e oriundi amigos do pai quando se encontravam no Bar Astoria e desandavam a falar da Itália.

Achava exagerado todo aquele sentimento, cantoria e lágrias.

“Uns bruta homens – e choram por nada, e cantam umas canções que não tocam no rádio.”

Foi na virada dos 30.

Comecei a reparar que, aos poucos, aquelas italianices também faziam parte da minha história e da minha personalidade.

Alias, nesse época, após uma candente reunião num dos jornais em que trabalhei, alguém ressaltou que eu era algo impaciente, falava alto, conversava demais, gesticulava demais, ria demais, confraternizava demais, além do que vivia cantarolando…

Certa tarde, o chefete da vez, autor das observações, me chamou de Carcamano.

Havia um tom pejorativo na fala.

(Confesso que nossos santos não batiam.)

Foi então que lembrei-me do pai e dos amigos do pai – e lhe respondi, orgulhoso:

“Sou um italiano que nasceu no Brasil.”

Leia também:

Há 150 anos inaugurava-se a imigração italiana no Brasil

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