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Coração oriental

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Foto: Jô Rabelo

Uma lembrança que me ocorreu assim que terminei o post de ontem sobre os 150 anos da imigração italiana.

Tem a ver, mas não tem muito.

Mesmo assim, lembrei num relance.

Penso que, na tal série que escrevo _este é o 14° post/crônica_ sobre meus 50 anos de jornalismo. seria legal repartir essa memória com os amigos_leitores.

“Foi por essa época, no longínquo ano de 1988, andava pelo Jornal da Tarde a defender uns trocos com alguns frilas aleatórios.

Vida de repórter viralata não é tão simples e venturosa como pode parecer num primeiro momento.

Nessas e em outras, caiu em minhas mãos algumas pautas sobre os 80 anos da Imigração Japonesa no Brasil. Ao que a chefia me informou, seriam para um suplemento especial sobre a efeméride que o jornal pensava publicar na edição de domingo.

Vai daí que, dias depois, lá fui eu para o consulado japonês – ou coisa que o valha – num suntuoso prédio na avenida Paulista.

Passei um tempo por lá – mais de semana – a conversar, via intérprete, com quem aparecesse à minha frente, de sorriso gentil e olhinhos puxados.

Buscava depoimentos, vivências, histórias de vida.

Não sou capaz de me lembrar as matérias que fiz.

Mas, não devem ter sido lá grande coisa.

No meio tempo entre a reportagem e a publicação do tal caderno, houve uma reestruturação na redação do JT, mudaram inclusive os responsáveis pela edição dos textos.

Resultado: não vi sequer uma das minhas matérias publicadas na íntegra. Um trecho aqui, outro ali a completar este ou aquele assunto num arremedo de suplemento especial.

Frustrante?

Nem tanto.

No dia aprazado, lá estava os troquinhos básicos na minha conta. Além do que, aquela vivência me trouxe outros ganhos Um deles, lembro-me bem – e conto a seguir.

Foi o depoimento emocionado de um ilustre diplomata japonês. Estava aqui há pouco tempo, dizia invejar a vocação para alegria que tem os brasileiros em contraponto à rigidez da cultura japonesa.

Estava feliz por viver entre nós.

A intérprete resolveu acrescentar um comentário à tradução:

— Acho que ele gostaria de ser um pouco brasileiro.

Não sei se vocês acreditam em milagres ou nessas coisas paranormais. Sei que, ao que consta, algum ‘santo’ poliglota baixou no japonesinho de terno impecável e gravata de seda. Parece que o jovem diplomata entendeu o que dizíamos e um pouco mais:

— Brashiirero, bom, né? Muito bom. Música boa. Divertido mesmo. Mas, só um pouquinho, né?

Enquanto falava, olhava cumprido para a ‘preferência nacional’ da morena que veio nos servir o café e agora se encaminhava para a porta da sala, sem se dar conta que deixara aos saltos e pinotes um frágil coração oriental.

Ainda nenhum comentário.

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