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Krenak na ABL e outros afagos

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Foto: O filósofo Aílton Krenak na posse da ABL/Agência.Gov

Agradeço a Deus pelos amigos que tenho. Mesmo os que estejam longe, e não os veja há tempos.

Nestor, o amigo de infância, está nesse rol.

Lá de Brugges, na Bélgica, onde mora, o distinto me envia a notícia que não dei – e agora, me penitencio.

E reproduzo com lamentável atraso:

Primeiro indígena eleito para ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL) em mais de 120 anos desde a sua fundação, o ambientalista, filósofo, poeta e escritor Ailton Krenak tomou posse nesta sexta-feira (05). A cerimônia, na sede da instituição, no Rio de Janeiro, contou com a presença da ministra da Cultura, Margareth Menezes, além de outras autoridades e acadêmicos.

“É muito simbólico participar desse ato. Krenak é um pensador, um estudioso e um conhecedor do Brasil profundo. Traz consigo a ancestralidade e o conhecimento. A Academia, a Cultura e todo o Brasil ganham com a posse dele hoje”, declarou a chefe da Cultura.

Na solenidade, Krenak recebeu da atriz Fernanda Montenegro o colar de imortal, a espada das mãos do também acadêmico Arnaldo Niskier e o diploma de Antonio Carlos Secchin.

(Do site da Agência do Governo Federal.)

Nestor me diz que a posse teve “ampla repercussão na mídia europeia, especialmente entre os ambientistas”.

Tanto que é ele, também, quem seleciona e me encaminha cinco trechos do longo discurso de posse do notável Krenak.

A conferir:

1 – “Um povo sem cultura não tem o que dizer.”

2 – “Mario de Andrade disse, ‘Eu sou 300’. É uma pretensão. Eu não sou mais que um, mas posso invocar os 305 povos indígenas que, nos últimos 30 anos, passaram a dizer: ‘Estou aqui. Sou guarani, sou xavante, sou kayapó, sou yanomami, sou terena.”

3 – “Somos herdeiros de tempos imemoriais, de 6.000, 8.000 anos. É bom pensar no tempo dessa maneira, porque ficamos sem pressa, sem ansiedade. Evita que eu chegue aqui e diga, ‘Desculpem, estou tomando o tempo de vocês’. Seria incabível. É impossível tomar o tempo do outro.”

4 – “A princesa Isabel aboliu a escravatura. Abolir a escravatura não é abolir a escravidão. Quem dera fosse.”

5 – “O Estado brasileiro está sendo demandado a pedir perdão por ter tentado matar o povo indígena. Mas pedir perdão depois significa muito pouco. O Estado pode matar e fazer guerra à hora que quiser. Não tem como pedir perdão.”

Recebo a contribuição do Nestor para o Blog com humildade e assimilo o belo ‘puxão de orelha’.

Fico desacorçoado comigo mesmo.

Nada escrevi sobre o tema.

No tempo da velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor, chamávamos essa falha de ‘barriga’ – ou seja, um fato importante acontece e o repórter ‘come bola’ e não noticia.

Seria inconcebível o vacilo.

O que faço? – pergunto, sem jeito, para outro contemporâneo, o Escova, aquele que se auto-intitula ‘ombudsman do nosso Blog’.

A resposta é igualmente repreensiva.

Vem em tópicos, como as pautas que Escova me passava naqueles idos:

– Não temos mais idade para ficar sem jeito.

– Publica a contribuição do Nestor.

– Se achar necessário, reviva o jargão do Cid Moreira quando apresentava o JN:

“Desculpe a nossa falha”.

– Fique mais atento.

E vida que segue.

TAMBÉM fica por conta do Nestor a escolha da trilha sonora de hoje:

A propósito, Nestor acha que o Clube da Esquina é tão ou mais importante que a Tropicália e a Bossa Nova como manifestação cultural na formação do nosso cancioneiro popular.

Não sei se concordo com ele.

Mas, hoje, estou sem moral para discutir coisa alguma.

1 Response
  • Veronica
    12, abril, 2024

    Eu vi pelas redes, gostei de ouvir o pedido de que a Academia incorpore outras letras.

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