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Sobre o doído 7 a 1. Dez anos depois

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Foto: Conmebol/Divulgação

Reluto ao ligar o computador:

Tenho mesmo que escrever sobre o 7 a 1, a implacável derrota da seleção brasileira diante dos alemães, na Copa de 2014?

Faz 10 anos hoje – 8 de julho.

À época estava de férias em Arraial D’Ajuda (olaiá…) e nada escrevi.

Só quando voltei alinhavei uma alegoria ao tema, na crônica chamada “A final dos sonhos”, postada em 14 de julho.

Assisti à partida no amplo salão do hotel, junto a outros hóspedes e funcionários.

Todos comemoravam a vitória antecipada e a cor amarela prevalecia no vestuário da rapaziada.

Vale dizer que havia uma (in)certa tensão no ar.

Não estávamos, apesar da aparência, assim tão confiantes.

Muitos lembravam as gloriosas exibições da Copa das Confederações, em 2013.

Outros temiam pela ausência de Neymar, mas o jovem Bernard, o que tinha “alegria nas pernas”, faria a diferença.

Papo de torcedor.

Lembro que, a certa altura, antes mesmo de o jogo começar, chegou uma família que nos chamou a atenção – os pais na faixa dos quarenta e os três filhos a rodear os 10.

O mais novo vestia orgulhosamente a camisa da seleção alemã.

(Ô petulância!)

A menina, sua irmã, vestia uma amarelinha e o outro irmão trajava a camisa azul da seleção.

Destaquei a coragem do menino para os meus pares,

E alguém retrucou citando a “simpatia” dos alemães para com os habitantes daquela região – os tedescos se concentraram em Cabrália, a poucos quilômetros dali, e conquistaram a todos, com gentilezas e sorrisos.

Talvez fosse por isso que o meninote atrevido encarnara o “Outrista”, personagem criado por Veríssimo que está sempre contra a maioria.

Diante dos nossos olhares curiosos, creio, a mãe resolveu estabelecer a regra do jogo para o garoto – e só para ele, os dois irmãos passaram incólume ao alerta:

“Quis vir com a camisa, veio. Agora não quero ver ninguém chorando aqui se a Alemanha perder. Entendeu?”

O garoto fez que sim com a cabeça.

Somos as nossas opções.

Beleza!

Bola rolando e aquela sapecada de gols, um após o outro.

E o brasileirinho lá, na comemoração.

E nós, todos, expressões desalentadas, irreparavelmente tristes.

Sem nada entender.

Fim do primeiro tempo, 5 a 0, a família resolveu assistir ao restante da partida no quarto do hotel.

A alegria do garoto era demais aos nossos olhos chorosos.

Ninguém imaginaria…

Minha única contribuição para consolar os amigos foi lembrar que a derrota para a Itália (3×2) na Copa da Espanha foi bem mais sofrido.

Alguns concordaram.

Outros continuaram embasbacados sem acreditar no que acabavam de ver.

  

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