Foto: Cid Moreira na bancada do Jornal Nacional/Globo/Divulgação
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Permitam-me lembrar uma história antiga.
Do tempo em que o apresentador Cid Moreira tinha cabelos castanhos.
(A bem da verdade, já escurecidos à base de uma seiva milagrosa, de babosa, sei lá…)
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A voz do Jornal Nacional parou para abastecer o carro num posto de gasolina no bairro de Copacabana. E logo foi reconhecido e cercado por algumas senhoras que vieram lhe cumprimentar entusiasmadas.
— O senhor é o apresentador do Jornal Nacional?
— Eu mesmo.
Ficou, digamos, empolgado com a popularidade que não lhe era comum nos tempos do rádio.
— Pois então Sr. Chapelin…
— Não, não, minha senhora. Meu nome é Cid. Cid Moreira. Cid Moreira, entendeu?
— Ah!, sim. Moreira. Moreira, né? Pois é… o senhor fala bonito que só vendo. Quer dizer, só ouvindo mesmo…
— Muito obrigado. Apenas cumpro com a minha função.
— Mas, é lindo viu, seu…
— Moreira. Cid Moreira, minha senhora.
— Claro, claro. Moreira. O senhor fala pausado, claro. A gente entende tudo o que diz.
— Que bom, que bom… Mas… em que posso ser útil?
— Sabe, a gente queria lhe fazer um pedido. Estamos, assim, um pouco sem jeito. Sabe como é, mal o conhecemos…
— Um pedido.
— É.
— Se estiver ao meu alcance…
— Podemos fazer, então?
— Claro.
— Daria para o senhor ler o jornal mais rápido.
— Mais rápido?
— É. Mais rápido…
— Mas, por quê? Está ruim a minha modulação, o ritmo…
— Não, não. O senhor está muito bem.
— Mas… então, não entendi…
— Sabe o que é seu Sérgio Moreira…
— Sérgio, não. Cid. Cid Moreira.
— Pois então seu Cid. A verdade é que a gente gosta do jornal, gosta mais do senhor lendo as notícias e tudo o mais. Mas, o que a gente quer mesmo… é ver a novela logo.
Plim, plim.
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*Texto publicado no livro “Volteios – Crônicas, lembranças e devaneios”
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O inimitável Cid Moreira morreu na manhã de hoje aos 97 anos.
Nossos sentimentos.
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O que você acha?