Foto: capa do livro de Paulo Mendes Campos/Reprodução
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No meio da rua, não
– Mas por que você não deita suas ideias por escrito? – digo-lhe. Ele entrepara, não sabe se ofendido ou lisonjeado.
– É que, por escrito, a gente pode ler em casa com todo o tempo.
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Valho-me do brevíssimo poema de Mário Quintana (1906/1994) para tocar o alquebrado post/crônica de hoje.
Explico.
Se o genial gaúcho tinha lá o seu Baú de Espantos, cá na minha indigência intelectual trago o meu embornal de desassossehos ainda mais dilacerado pelo que as urnas mostraram na recente eleição.
Não me apego aos resultados tão previsíveis quanto reveladores de como pensa, sente e se manifesta o Brasil de hoje e, queiramos ou não, de sempre.
Somos um povo malandramente conservador.
Firma-se em mim, por isso, a desconfiança do que está por vir.
Senão vejamos:
Três notícias que gostaria de compartilhar com os amigos-leitores (se é que ainda andam por aqui?).
Para ler e pensar.
Se assim bem entenderem.
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A primeira:
O total de eleitores que não escolheu nenhum dos candidatos no segundo turno das eleições em São Paulo (3,6 milhões) é maior que votação do prefeito reeleito Ricardo Nunes (3,4 milhões) e do deputado Guilherme Boulos (2,3 milhões). Sim, a maior força política que venceu na capital paulista não foi o nome do MDB, nem do PSOL, mas o Desprezo (sem partido).
Blog do Sakamoto, ontem no UOL.
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A segunda:
O sociólogo Jessé Souza, 64, vê com pessimismo o futuro da esquerda no Brasil. Ele teme que o “PT se torne tão irrelevante quanto o PSDB”.
Para Souza, a esquerda “desistiu de lutar”, e a direita conquista eleitores vendendo “magia”. “Pablo Marçal, bets, é a mesma coisa.”
Jessé, que é professor da Universidade Federal do ABC, entrevistou mais de cem pessoas para escrever o livro “O Pobre de Direita: a Vingança dos Bastardos”, recém-lançado pela editora Civilização Brasileira.
“Sentia um desespero quando saía das entrevistas. Isso aqui vai virar o Irã”.
Da reportagem de Adriana Negreiros, no UOL.
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A terceira:
Eleições provam farsa da polarização e derrotam Bolsonaro; o centro é Lula.
Se o desempenho dos partidos nas eleições municipais fosse preditor do futuro presidente da República, Lula não teria vencido cinco das nove eleições diretas depois da redemocratização. E não foram seis porque foi vítima de um golpe judicial desferido pela Lava Jato. Mas que esta verdade insofismável não nos impeça de perceber alguns movimentos nas placas tectônicas do país.
Do jornalista Reinaldo Azevedo, no Uol.
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Na trilha sonora de hoje, o Brasil de sempre num velho e bom samba…
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O que você acha?