Foto: cena do filme Golpe de Sorte em Paris, de Woody Allen
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Só na tarde de sábado consegui assistir ao filme de Woody Allen em cartaz na cidade de São Paulo.
Golpe de Sorte em Paris, produção feita por Allen só com artistas franceses, e que trata de conhecidos e recorrentes temas da obra do cineasta: a artimanha dos encontros fortuitos, os relacionamentos amorosos que se entrelaçam e conflitam, um assassinato – e, principalmente, que é preciso ter sorte na vida.
Para o bem e para o mal, é o Sr. Acaso quem define as cenas dos próximos capítulos.
Há uma penca de filmes de Allen que investiga e desnuda essa abordagem.
Cito alguns títulos que agora me ocorrem: Crimes e Pecados (1989), Match Point (2005), O Sonho de Cassandra (2007), Homem Irracional (2015), entre outros.
Acho Crimes e Pecados, o mais elaborado. Match Point, o mais tenso.
O escritor português João Pereira Coutinho, em longo artigo para a Folha de S.Paulo, resumiu assim a essência do cineasta ao tratar da temática:
“Woody Allen é um ateu relutante: ele quer um mundo sem Deus, mas onde a justiça divina ainda se sente. Ou, citando um crente como Martin Luther King, ele subscreve a ideia de que ‘o arco do universo moral é longo, mas se inclina em direção à justiça’ ”.
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Tem um exercício que sempre faço nos filmes de Woody Allen quando o próprio Allen não aparece como alter ego do autor e diretor.
Sempre tem um a repetir os trejeitos e as trapalhadas de Woody na trama.
Nem sempre é o protagonista, mas é, muitas vezes, o elemento-chave para esclarecer o mistério, tanto faz ser um mal-entendido como um indecifrável assassinato.
Em Golpe de Sorte em Paris senti falta deste personagem mais presente. Não sei se por serem atores europeus – todos, do elenco – o truque de Woody não funcionou como de costume.
De qualquer forma, e para não perder o hábito, indico Camile (a mãe da protagonista, Fanny) como o personagem que mais se aproxima, ainda que bem distante do que seria um tragicômico Woody Allen em cena.
Por fim – e enfim, diria, mesmo que tardiamente (pois, o filme continua há mais de mês em cartaz), que Golpe de Sorte em Paris não está entre os melhores filmes de Woddy Allen, mas é sempre um filme de Woody Allen.
E isso vale por si.
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No mais, revisitar as salas do antigo Belas Artes (não sei, e não me interessa o nome atual) depois de tantos anos, tomar um expresso no disputado balcão, olhar a fauna de descolados ao redor e lembrar tantas e tantas venturas por ali vividas em tempos idos para assistir a filmes épicos, me é um grandíssimo feito, mesmo que seja numa tarde arisca e chuvosa de sábado no coração de São Paulo.
Cheguei encharcado da chuva e de nostalgia ao cinema.
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O que você acha?