Foto: o repórter e Martinho da Vila, idos dos anos 80/Walter da Silva/Arquivo Pessoal
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Rodolfo, cadê você?
(Martinho da Vila)
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Neste Dia da Consciência Negra, feriadão, resgato um registro que considero pessoalmente valioso.
Vai na leva de reportagens e crônicas que recupero como registro dos meus 50 anos de jornalismo, 50 anos de escrevinhação que tiveram lá suas recompensas, digamos, etéreas.
Que hoje, acrescento, se fazem lembranças boa de lembrar como um quase-reviver.
Querem um exemplo?
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Imaginem o tamanho do meu sorriso ao receber o disco autografado das mãos do repórter que me substituiu na coletiva de imprensa do cantor e compositor Martinho da Vila nos idos dos anos 80?
Na velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor, alguns duvidaram da legitimidade da dedicatória.
Eu mesmo, passada a surpresa inicial, ponderei comigo mesmo:
“Isso é coisa do amigo e então assessor de imprensa da RCA Victor, o inesquecível Artúlio Reis”.
Não comentei com ninguém, mas, ainda hoje reconheço que faz todo o sentido.
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“Rodolfo, cadê você?“
Do nada, o notável sambista ia dar por minha ausência em meio a tantos iguais da reportagem?
Coisa do Artúlio.
Ou não?
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Lembrei a história, dia desses, numa conversa com amigos.
Todo ano, Martinho fazia um disco novo, repleto de sambas maneiros, e vinha para São Paulo fazer o lançamento oficial na metrópole, com show no Palace ou no Olympia. Na terça ou na quarta imediatamente anterior à noite da estreia, havia a coletiva de imprensa – e eu lá, caneta e bloco de anotações nas mãos, a ouvi-lo falar do novo trabalho e , sobretudo, das belezas infinitas deste Brasil acolhedor e multirracial.
Naquela tarde, eu me embananei no ‘fechamento’ da edição e não consegui me desvencilhar do compromisso de por o jornal na rua.
Outro repórter foi no meu lugar.
Enfim…
Menos mal que ganhei o disco, mas perdi a preciosa oportunidade do encontro. Sempre culturalmente enriquecedor.
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Seja no palco, seja na vida real, Martinho é o mesmo.
Simpático, malemolente, suave no jeitão de tocar a conversa, com sabedoria. Devagar, devagarinho…
Não se iludam, com o jeitão despojado do sambista, Martinho é um homem culto, antenado nas coisas do Brasil e do mundo.
Adora historiar sobre as raízes de seus ancestrais.
Fala sem ranço algum, mas com plena consciência das lutas e das conquistas.
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Houve um ano em que ele e outros artistas fizeram uma temporada de shows na África, percorreram diversos países – e Martinho voltou maravilhado.
Dizia algo assim:
África e Brasil são muito parecidos.
Salve a miscigenação das raças.
Somos um povo lindo.
Temos em comum o “desafio de construir um futuro de paz.”
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O que você acha?