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A lembrar Herzog, Marcão e vãs utopias

“Vlado – 30 anos depois”. Ao meu lado, os jornalistas Mino Carta e George Duque Estrada/ Foto: Jô Rabelo, 2015

“Meus Deus, lá se vão 50 anos…”

Rememoro com aperto no coração na sala escura do cinema.

Não resisti – e fui ver, outra vez, o filme Ainda Estou Aqui.

Um dos doídos espantos que me causou o filme de Walter Salles foi ver, em meio às cenas finais, ali à minha frente, estampada na tela gigante, a foto do jornalista e professor Vladimir Herzog, brutalmente assassinado pelos trogloditas da ditadura militar, no DOI-CODI, em São Paulo.

Herzog era professor de telejornalismo da minha turma da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, em outubro de 1975, quando foi preso, torturado e – repito – brutalmente assassinado numa operação clandestina e estúpida, similar a que tirou a vida do ex-deputado Rubem Paiva.

Clarices e Eunices, nomes que enfeitam os primorosos versos de Aldir Blanc para a melodia de João Bosco, na eterna “O Bêbado e a Equilibrista”, pois estes, amigos, referem-se justamente às esposas de Herzog e Paiva.

O que mais me corrói, nessa dolorida lembrança, é constatar, impotente, que tal fato aconteceu – como disse – há quase 50 anos e o Brasil e o mundo ainda vivem à sombra desses toscos aspirantes a tiranos, com ares segregacionistas a espumar ódios, truculências e insanidades.

Ou seja…

A ‘esperança equilibrista’, que diz a canção, permanece por um fio a caminhar sob o arame, sem rede de proteção..

Já vivemos dias melhores, meus caros.

Lembro que, em 2005, o jornalista Mino Carta veio a São Bernardo do Campo participar de encontro com estudantes do curso de jornalismo da Universidade Metodista de São Paulo. Tema da palestra: exatamente os 30 anos da morte do jornalista Vladimir Herzog nos porões da ditadura..

Na ocasião, Mino saudou os jovens e futuros jornalistas e os lembrou que, apesar de todos os pesares, vivíamos então um momento em que se ousava sonhar com um país mais justo, mais solidário, mais contemporâneo.

Para tanto, destacou, a consolidação do estado democrático seria a pedra filosofal. A partir daí, se extirpariam todos os males sociais.

Durou pouco o sonho sonhado, amigos.

Meu primeiro editor, o jornalista Antônio de Oliveira Marques, gostava de contar a história que viveu no dia do suicídio do presidente Getúlio Vargas, em agosto de 54. Ele e outros jovens militantes editaram um jornal de uma só folha e uma só notícia.

E saíram pelo centro de São Paulo a espalhar a convocação:

“Que o Povo saia às ruas e tome para si o destino da Pátria.”

Linda utopia que nos parece ainda e cada vez mais distante.

Que povo?

Que pátria?

Tenho certeza que, hoje, alguém perguntaria, com ar sinistro e nenhum senso de fraternidade.

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