Foto: colaboração do amigo Amândio Martins
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Maio de 1968 foi ao ar o último programa da Jovem Guarda.
Curioso que não consegui precisar a data certa, em qual dos domingos de maio daquele bendito ano, os executivos da TV Record deram o alô para a rapaziada do programa:
“Acabou. Este é o último programa. Valeu. Um abraço”.
Se não foi exatamente assim, foi muito próximo a isso.
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Desde janeiro do ano que não terminou, Roberto Carlos não fazia mais parte do ruidoso encontro das tardes de domingo.
Ele dedicava-se a uma promissora carreira de cantor romântico, inclusive com participação vitoriosa no Festival de San Remo, na Itália, como intérprete da belíssima “Canzone per te”, de Sérgio Endrigo (1933/2005).
Por óbvio que seja, vale ressaltar que a ausência do Rei foi causa indiscutível da queda de popularidade da atração.
Mas, não a única.
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Há que se fazer, portanto, outras tantas e importantes ressaltas.
A grade de atrações da TV Record recheada de musicais também dava evidentes sinais de exaustão. E, neste ponto, pode se listar uma série de fatores que contribuiram decididamente para tal declínio.
Fatores que vão desde as transformações da sociedade como um todo e o recrudescimento do regime ditatorial qu se abatia no Brasil naquele momento.
A música sempre foi um instrumento de contestação e libertação.
Aconteceram dois incêndios mais do que suspeitos nas instalações da Record que deram um prejuízo danado à empresa e dizimaram todo um acervo documental daquela importante época.
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O amigo Nasci, que trabalhava na emissora naquele período, acrescentava outro dado interessante a se pesar na derrocada da Record. Alguns nomes do enorme cast de contratados da Record ficaram maiores que a emissora.
“Além da vaidade natural de todo o artista” – dizia o Nasci – “os contratos com a Record, embora milionários, os prendia a uma série de compromisso locais que eram verdadeiras travas às agendas de shows e viagens (algumas internacionais) que os ídolos de então projetavam para si na busca de novos horizontes.”
Entre os tais grandões, Nasci citava Elis, Chico Buarque, Simonal, Jair Rodrigues, Geraldo Vandré e ele, Roberto Carlos, o mais popular de todos.
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Faz sentido.
Mas, modestamente, faço a seguinte consideração.
O jovem de 68 já não era o mesmo do jovem de 64/65.
Havia algo intangível naquela geração com ideias e ideais próprios e peculiares.
Talvez projetassem um novo mundo que, ainda hoje me pergunto, não sei se conseguiram construir.
É provável que tenhamos chegado bem perto de…
Enfim…
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Um insight pessoal.
Meses antes, ainda no palco da TV Record, quando vi em cena Caetano Veloso e os barbudos e cabeludos do Beach Boys (para defender “Alegria Alegria”) e Gilberto Gil e os Mutantes (para opereta popular e baianamente roqueira de “Domingo no Parque”), percebi que, a partir daquele momento, nem a música popular brasileira, nem nós, os jovens de então, nunca mais seríamos os mesmos.
E tenho dito.
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* Encontro no You Tube um vídeo com valiosos depoimentos sobre o fim do programa Jovem Guarda.
Vale conferir!
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O que você acha?