Painel ‘Grandes Reportagens’: José Hamilton Ribeiro, Rodolfo C. Martino, Ricardo Kotscho, Geneton Moraes e Luíz Carlos Azenha. Foto: Jô Rabelo.
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“Vida, minha vida, olha o que é que eu fiz…”
(Chico Buarque)
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Consta ser inevitável que este espaço se ocupe a traçar uma autobiografia do autor. Sejamos breves, pois, os diletos leitores não têm tempo a perder. Cabe-me, assim, a imodesta tarefa de escrever na primeira pessoa.
Nasci no Cambuci (São Paulo/SP) em 4 de dezembro de 1950. Meus limites geográficos e existenciais até os 16 anos não ultrapassaram o triângulo compreendido entre o Parque da Aclimação, a várzea do Glicério e os “sete campos”, no final da rua Independência. O futebol, desde então, era paixão e vida.
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Depois veio a mudança para o Ipiranga e, na sequência, também vieram o encantamento pela música popular, o turbilhão dos anos 70 e a Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, onde cursei Jornalismo num tempo onde as invasões dos homens do DOI/CODI e a prisão de estudantes eram mais frequentes que as horas de aulas propriamente ditas. Desse período, dois momentos são inesquecíveis: o show Milagre dos Peixes, de Milton Nascimento, no campus da Cidade Universitária e o legado das breves aulas de telejornalismo, com o professor Wladimir Herzog: “O jornalista não deve temer chegar ao fundo do poço na busca dos fatos, da verdade. É preciso encarar todos os sacrifícios que a verdade dos fatos nos impõe. Não é muito fácil. Mas, se não for assim, é melhor procurar outra profissão.”
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A voz convicta do professor não deixava transparecer qualquer rancor. Falou naturalmente ao exigir mais seriedade. Um grupo de alunos ameaçou reclamar. Todos estavam convocados a trocar um provável fim de semana ensolarado pela presença obrigatória na elaboração de um noticiário sobre os problemas de transporte na cidade universitária e imediações. Não havia formalismo, nem pose de dono-da-verdade. Apenas, deixava bem nítida a tal profissão de fé.
Herzog morreu, algumas semanas depois (outubro/75), assassinado nas dependências do quartel da rua Tutóia. A História do Brasil não foi a mesma a partir daí. E ainda que modestamente posso dizer que minha história também. No melhor do estilo Forrest Gump comecei a correr sem saber direito para onde, nem para quê… Uma ideia na cabeça (construir o Brasil de todos os brasileiros) e um sonho nas mãos. A canção dava o mote: “gente é pra brilhar; não pra morrer de fome”.
Deixei a USP sem lembranças, nem remorsos. A colação de grau na secretaria da ECA foi a exata tradução de como entendíamos o curso; sem traumas, nem festas. Depois de uma rápida passagem pelo Diário da Noite, fui parar na Redação da Gazeta do Ipiranga, onde aportei em março de 74 e saí em novembro de 2002.
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Comecei como “redator-estagiário” e, quatro anos depois, passei a editor e diretor-responsável. Simultaneamente colaborei em diversas publicações de âmbito nacional (Agência Estado, Jornal da Tarde , revista Afinal, Shopping News, Gazeta FM, e outros), principalmente na editoria de Cultura. Cheguei até mesmo a montar um jornal de bairro na Mooca. No entanto, foi mesmo pelas plagas históricas do Ipiranga que fundeei sonhos, expectativas, trabalho, amizades, aprendizagem, amores e a esperança em dias melhores, repito, para todos os brasileiros.
“Que o povo saia às ruas… E tome para si o destino da Nação” – escrevi no editorial do jornal (homenagem ao meu primeiro editor, jornalista Antônio de Oliveira Marques) na edição imediatamente anterior ao 15 de novembro de 1989, quando voltávamos a escolher o presidente da República pelo voto direto e universal, após 30 anos de abstenção.
Democracia se faz com cidadania e solidariedade.
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Foi a lição maior que aprendi e que ainda hoje procuro vivenciar.
O aprender e ensinar da vida me levou para a Universidade Metodista em 1998. Tive antes uma breve passagem pela Universidade São Marcos – onde fui um pouco assessor de Imprensa e outro tanto professor de História Contemporânea. No entanto, foi a UMESP quem me deu régua e compasso para enfrentar o novo desafio e traçar um novo projeto de vida.
Entendi que era hora de passar o bastão para os que estão chegando, com o alforje repleto de esperanças e possibilidades. Minha melhor contribuição seria procurar orientá-los e incentivá-los a corresponder às próprias expectativas, pela aquisição de novos conhecimentos, senso crítico e espírito de fraternidade.
O novo século me trouxe alguns alentados desafios: a construção do Portal/Blog (2006), a publicação dos livros (*) e a consolidação da carreira acadêmica (de 2005 a 2018, respondi pela Coordenação do curso de Jornalismo da UMESP ).
Nesse contexto, o mestrado em Comunicação Social foi consequência natural daquele novo momento. O tema – as estratégias comunicacionais utilizadas para revitalização do Museu do Ipiranga – também não escapou à minha, digamos, luta em prol da organização social e da valorização da cidadania.
Foi no mestrado que me fiz mais próximo da admiração pelo possível e inusitado que, de alguma forma, Carl Sagan sagrou como essencial para a pesquisa em seu livro O Mundo Assombrado Pelos Demônios:
“O cientista não deixa o razoável em paz”.
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Por falar em paz, acredito que só a teremos quando esta se manifestar plenamente e contemplar a todos os cidadãos. A Educação é instrumento fundamental para essa conquista. Assim, como é sempre bom ter consciência do momento histórico que vivemos.
Nossa tênue democracia depende – e muito – da participação de todos. Não pode haver vacilo, nem retrocesso.
Só assim serão possíveis novas e legítimas conquistas. Só assim, com a participação de todos, repito enfim, será possível transformar em realidade o sonho de um Brasil para todos os brasileiros.
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(*) Livros e publicações:
(1997)
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Dissertação/Mestrado (2001)
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(2010)
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(2011)
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(e-book/2013)
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(2013)
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(2017)
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(2019)
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(e-book/2020)
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(2021)
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(2022)
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