Cena 1.
Sala de estar de uma ampla casa na Zona Sul da cidade.
O homem de uns 40 e tanto anos olha a mensagem no visor do celular.
E fica desconsertado…
— Arebaba!
Repete baixinho o bordão da novela que passa na TV.
Pensa:
O que deu na moça de me ligar depois de tanto tempo.
Atende com ar distraído como se não soubesse quem era.
Conversam, por alguns minutos, assuntos gerais como se fossem bons amigos.
(Foram bem mais do que isso num passado recente.)
Desligam educadamente como se nada de anormal tivesse acontecido.
Fica a promessa de almoçarem qualquer dia desses.
— Beijo
— Outro
E desligam.
Cena 2
De volta ao mundo normal, lembram o quanto foram felizes.
Disfarçam, mas sabem que nunca mais se sentirão tão intensamente vivos.
Cena 3
Outro casal. A mesmíssima saudades das coisas que se perderam.
Certa moça chega ao escritório para mais um dia de trabalho.
Abre o computador para ver as novas do dia e a pauta de tarefas, e sorri.
Em sua caixa de emails, vê o endereço eletrônico do ex.
Aquele de quem nunca mais teve notícias.
A mensagem tem a data de ontem à noite.
O que a deixa encafifada:
— Qual é a dele agora?
Perguntou por perguntar.
Desde que o ‘canalha’ se foi, aprendeu, com uma amiga, o refrão que mudara a sua vida:
“A fila anda.”
Ufa! E como tem andado para ela. Benza Deus!
Pensa em delatar sem ler. Mas resolve dar uma chance ao email; não a ele.
Não entende bem. Mas, fica feliz com o que lê…
“Não precisa responder, se não quiser. Mas ouvir Erasmo e Nana Caymmi ontem à noite, me fez sonhar com você. Desculpe se for invasão. Mas é só para lembrar e nunca esquecer. Beijos.”
Conclusão do que não se concluiu:
O que é capaz de fazer a canção certa, na hora exata, de um capítulo da novela das oito!
“Onde você estiver
Não se esqueça de mim”
Prova de que, em um certo momento, todos viveram a mesma cena…
FOTO no Blog: Jô Rabelo
