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A canção e o Grammy

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Foto: Tom e Caetano Veloso/ Uns Produções/ Divulgação

Tento assistir na TV à cerimônia do Grammy Latino que ocorreu semana passada em Las Vegas, nos Estados Unidos.

Uma ousadia para este arqueado repórter que viveu lá bons e idos tempos a escrever sobre nossa música popular e seus personagens.

Ressalto minha ousadia por dois bons motivos.

A saber:

1 – é sabido que o prêmio privilegia as composições e os artistas de língua hispânica, posto que são predominantes neste pedaço do Planeta; então, é muitíssimo provável que pouco tenhamos ali do Brasil brasileiro;

2 – os tempos são outros, e bem diverso daqueles que o dito repórter batucou numa estoica máquina de escrever os ditos e os feitos da então chamada MPB.

(À exceção dos Beatles, dos Rolling Stones e do Sinatra, sempre fui um tanto xenófobo em em termos musicais.)

Viver sem música – reitero a verdade que li em algum lugar, sem precisar quem foi o autor das sábias palavras – é um inestimável equívoco.

Mas, preciso lhes dizer que, salvo raríssimas exceções, não tenho qualquer afinidade com estilos e gêneros de canções que hoje estão tão em voga.

Acho natural. Uma questão geracional, certamente.

Não me cabe alimentar discussões.

Cada tempo tem lá sua trilha sonora.

Lembro sempre a fúria do pai, o Velho Aldo, ao me flagrar na vã tentativa de, ao violão, tentar copiar a versão roqueira de Trini Lopez para o bolero Besame Mucho (sagrado, para o pai).

Quase ganho meu humilde violão Giannini como colar naquela tarde.

Enfim…

Cada tempo tem lá sua trilha sonora.

Respeite-se – e ponto e basta!

Voltemos à noite do Grammy.

A abertura trouxe o nosso Carlinhos Brown com a sacudida Magalenha acompanhado pelas cantantes Anitta, Giulia Be, Gloria Estefan e toda uma megaprodução tipo Brazil Export (ou seja, passistas, batuqueiros e, como diria Sargentelli, “muito borogodó”).

Depois…

Bem depois, houve um corte de energia elétrica na região onde moro – e o apartamento ficou às escuras.

Na minha oportuna crendice, entendi que era um sinal para desistir enquanto houvesse tempo.

Foi o que fiz.

Já havia visto o suficiente.

Só na manhã seguinte pude conferir que o prêmio mais significativo que nossos pares brazucas conseguiram foi a vitória de Talvez, um samba-canção bossanovista, como a Gravação do Ano.

De autoria de Cezar Mendes e Tom Veloso, interpretado por filho e pai, Tom e Caetano Veloso, é uma das tais exceções, às quais acima me referi.

Leio que o Brasil nunca havia levado esse prêmio tão relevante, que a família Veloso (por outros compromissos) não pôde comparecer à cerimônia e que o saudoso João Gilberto se encantou ao ouvir, em primeiríssima mão, a interpretação da música nos idos de 2018 ou 19.

É mesmo uma belíssima canção ainda escondida do grande público.

Desconfio que até o Velho Aldo se emocionaria…

Trilha sonora de todos os tempos.

Confira aí para a sua playlist:

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