Lembram do que aqui lhes contei?
Que deixei sobre a mesa, bem visível, meu bloco de anotações. Só assim tomei coragem de transformar em textos minhas notas de viagem.
Deu relativamente certo.
De terça a sábado cascateei sobre minhas andanças.
Não ficou lá um primor literário. Mas, ao menos, me livrei do peso na consciência de adiar esse enfrentamento.
Hoje, uma semana depois, lhes trago notícias do caderninho. Está inteiramente desfolhado. Por um motivo simples. À medida que escrevo vou arrancando as páginas com um alívio que lhes garanto é indescritível.
Não sei se já lhes falei da frase do jornalista Armando Nogueira que desnuda exemplarmente essa verdade.
— Jornalista não gosta de escrever. Jornalista gosta de ter escrito…
É exatamente assim…
Neste preciso momento, 19h30, estou à espera do grupo de estudantes para orientação de um livro reportagem que tem como temática o circo. Trata-se, na verdade, de um trabalho de conclusão de curso, o tal TCC. Enquanto isso batuco essas mal traçadas para ver se consigo postar ainda antes das 20 horas.
Quando aqui cheguei pela manhã, repeti a estratégia de terça passada. No lugar do velho bloco, espalhei recortes de jornais que, durante o fim de semana, julguei me seriam fontes inspiradoras de novos textos.
De quando em quando, tenho esses surtos de achar que o blog anda distante da vida real. Que eu deveria comentar os fatos que estão no noticiário. Da perspectiva de os Estados Unidos elegerem um presidente negro à relação cada vez mais tensa – e altamente explosiva – que existe hoje entre Venezuela e Colômbia. Dos qüiproquós eleitorais que se anunciam na campanha para Prefeitura de São Paulo ao gol do ‘chorão’ Valdívia no derby de domingo, entre Palmeiras e Corinthians, entre outros temas.
Sei que vão dizer que é cacoete de jornalista querer andar em cima do fato.
Sei também que vocês têm razão.
E é aí que começo a me preocupar.
Sequer toquei nos jornais.
E me inquieta a dúvida:
Será que o blogueiro canibalizou o repórter vira-lata que um dia eu fui?
Só agora, alguns segundos para as 19h50, me dou conta de que estou prestes a fechar o post – e as notícias que programei hoje comentar só virão amanhã.
Isso se até lá eu não mudar de idéia.
Decididamente este blog não tem nada de jornalístico. É só um jeito que encontrei de estar perto de você…
