Foto: Leila Kiyomura
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10 – NA MEDIDA DO POSSÌVEL
Hoje cedo, acordei – e perguntei para minha mãe se estava tudo bem.
Ela disse que sim.
– Na medida do possível, filho. Com as bênçãos do nosso Deus Pai.
Sei não… Senti uma tristeza no rosto dela.
– Aqui, estamos a salvo, né, mãe?
Ela abriu a janela do chalé, olhou o sol, o mar, a areia:
– Claro que sim, Mingo. Mas, temos que pensar nos outros. Naqueles que não são tão privilegiados como nós somos.
Acho que ela começou a chorar baixinho.
Fiquei quieto.
Fui tomar meu café no refeitório. Lavei bem as mãos antes. E disse “por favor” e “obrigado” para a garota que me serviu.
– Você está chorando, Mingo?
Ela perguntou.
Mas, eu enfiei o rosto no copo de achocolatado que ela me trouxe. Preferi não responder.
Já falam que eu sou chorão, que reclamo de tudo.
Então nem toquei no assunto.
As pessoas andam tristes demais.
Por sorte, fiquei na minha. Olhei para a garota e agradeci de novo.
– Muito obrigado, mocinha. Agradeço…
Foi nessa hora que o Enzo entrou todo falante.
Piscou para mim. E disse:
– Bonita morena, não?
Enzo sabe das coisas. Mas, decididamente não conhece a Andressa.
11 – A IDADE CERTA
Enzo é escritor, mora em São Paulo, num bairro chamado Aclimação que – ele me disse – tem um jardim enorme e um lago. Ele adora olhar o lago, mesmo que as águas não sejam lá muito limpinhas, como eram no tempo em que ele, Enzo, tinha a minha idade e o apelido de “Trapatone” que era um zagueiro italiano que marcava o Pelé, o Rei do Futebol.
– Não é do meu tempo, eu disse.
Ele riu e sacudiu a cabeça balançando a cabeleira acinzentada.
Tem dia que os fios de cabelo do Enzo parecem azulados.
A idade certa, não sei.
Nunca sei ver isso.
Radamés tem 40 e poucos anos. Ou 39, vai saber?
Enzo deve ter uns 50 anos, sei lá? Pode ser mais, pode ser menos. Também não vou ficar perguntando a idade para as pessoas.
Muda alguma coisa? Acho que não.
Além do que, minha mãe diz que não é de bom tom sair por aí revelando a idade das pessoas.
(Ela tem 38, mas não espalhem.)
*
Ele não usa roupa de velho, entendem?
Também não veste bermudão de skatista, não deixa a cueca aparecendo (estranho esse jeito, não? Parece que a calça vai cair a qualquer hora) nem usa boné virado para trás.
– No estilo, ele diz.
Acho que o Radamés anda com ciúmes do Enzo, acho.
Num tom de crítica, ele falou que o “coroa” (o Enzo) gasta uma fortuna em roupas de marcas caríssimas. Qu isso não faz sentido.
Não entendo dessa história de vestir ou não vestir.
Sei que todo o dinheiro que tenho prefiro gastar em sorvetes.
Mas, agora nem isso aparece por aqui. Os vendedores sumiram da praia.
Aliás, ir à praia agora é uma aventura.
A gente só pode ficar no nosso cercadinho.
Senão, a pandemia vem e pega, acho.
Não acho o Enzo tão velho assim.
Ele é brother, cara!
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Continua amanhã…
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…
O que você acha?