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A dúvida e o encanto

Visitei ontem um amigo em seu emprego.

Quando cheguei, lá estava ele ao computador a trabalhar o PowerPoint que usaria na aula da noite.

Percebi que da engenhoca saía uma das tantas músicas de Benjor.

Era a primeira versão de Chove Chuva, hit eterno, com versão definitiva gravada no início dos anos 60 para o elepê Samba Esquema Novo.

Mas Que Nada, Por Causa de Você, Menina e Balança Pema são deste álbum.

Nada mal o repertório para um disco de estreia.

Benjor, à época, ainda chamava-se Jorge Ben e era um ilustre desconhecido em Sampa.

Não resisti – e no embalo da canção – contei ao amigo Sales a primeira vez que ouvi a canção.

Tinha doze para treze anos, se tanto.

A molecada da rua Muniz de Souza, no Cambuci, fazia hora em frente o armazém do Seo Mário a espera da amada/idolatrada bola de capotão para o futebolzinho básico no campinho improvisado da rua Piai.

Do rádio sobre o balcão vieram os primeiros acordes da canção.

Um dos nossos – acho que o Darci, pouco mais velho e já batuqueiro do Império do Cambuci – chamou nossa atenção para o dolente violão de Bem que carregava na caprichada introdução.

— É um crioulo, lá do Rio. Aprendeu a tocar violão sozinho…

Continuamos atentos,

Alguém perguntou:

— É samba?

O outro tentou decifrar o enigma:

— Acho que é bossa nova.

— Sei não ta mais para rock’in’roll, balada (que então era apenas um gênero musical)…

Ninguém soube explicar exatamente.

Mas todos ficaram encantados.

Dúvida e encantamento que persistem ainda hoje, quase 50 anos depois.

Benjor, disse ao amigo Sales e repito agora a vocês, é apenas Benjor, Benjor, Benjor.

Salve simpatia…

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