Ilustração: o linotipo/reprodução
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Caramba!
Ainda frequentava o Grupo Escolar Oscar Thompson, no Largo do Cambuci, era garotão de tudo quando, pela primeira vez, a palavra Jornalismo chamou minha atenção.
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Em meio à lição de casa que a profa. Dona Izabel nos passou, fui vasculhar as páginas da enciclopédia que o pai acabara de comprar para introduzir o filho-caçula ‘no mundo da ciência e do conhecimento’.
O Velho Aldo, meu pai, não era letrado, mas tinha planos ambiciosos para o Tchinim.
Se ele me consultasse, saberia que meu objeto de desejo à época seria uma bola de capotão, oficial, número 5.
Outro brinquedo qualquer creio que também me faria mais feliz.
De qualquer forma, não reclamei por ser o feliz proprietário daquela meia-dúzia de livros, grandões (uns 40 centimetros de altura por vinte e tantos de largura), recheados de textos e, pasmem, fotos e ilustrações p/b e coloridas.
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Então, como eu dizia, procurava não sei exatamente o que para reforçar o dever escolar e, do nada, topei com duas páginas dedicadas ao item IMPRENSA e a seguinte manchete em tom solene:
Jornalismo é a expressão do pensamento social
Nada entendi.
Mas, achei importante pra caramba.
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Lembro um trecho daquela maçaroca de palavras.
Era mais ou menos assim:
“A invenção dos tipos móveis de Gutenberg é considerada um dos grandes acontecimentos do milênio, responsáveis por significativas mudanças na História da Humanidade”.
Não sabia quem era Gutenberg.
Me espantou a foto de um linotipo, com os tais ‘tipos móveis’.
História da Humanidade?
Devia ser importante pra caramba.
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Anos depois, por obra do Destino e do Acaso, virei repórter.
Nesses dias, em que vasculho arquivos e memória para escrever sobre meus 50 anos de Jornalismo, veio-me o questionamento:
Será que lá no íntimo, naquela zona nebulosa entre o fígado e a alma, foi a pomposidade daquele título que me empurrou para a carreira que escolhi?
Será?
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O que você acha?