A casa antiga – no 1806 da rua Bom Pastor, no Ipiranga – ficava sempre com os portões escancarados. Eram tantos e tamanhos que procuravam a combativa redação de Gazeta do Ipiranga que assim nós, jovens repórteres, nos sentíamos mais à vontade para tocar o santo ofício do jornalismo.
De notáveis personalidades locais e municipais ao mais humilde dos moradores, todos nos procuravam e eram atendidos em suas reivindicações. Que iam da divulgação de um evento às duras batalhas diante das autoridades para a solução de algum problema da comunidade.
Aliás, o grande barato do jornal de bairro nos idos de 70 e 80 é que dava voz e vez a todas as gentes num momento em que o País atravessa o difícil túnel do obscurantismo.
No fundo, no fundo, eram eles – moradores – que pautavam a edição da semana.
Uma daquelas edições que se perdeu no tempo trouxe uma entrevista mais do que especial.
Foi com o economista e professor da Unicamp, Aloísio Mercadante.
Faro jornalístico?
Exercício de futurologia?
Algum tema bombástico?
Desconfio que nem mesmo o atual candidato ao Governo do Estado deve lembrar o que lhes conto a seguir.
Seguinte.
O prof. Mercadante trouxe um grupo de estudantes de Campinas para um suposto Congresso no ABC – provavelmente em São Bernardo, onde tudo acontecia em termos políticos naquela época. No caminho de volta, ao enfrentar uma das tantas ladeiras da Bom Pastor, o ônibus da rapaziada pifou.
E lá se foi o prof. Mercadante em busca de socorro.
Ao ver o portão aberto, não teve dúvidas, foi entrando em nossa modesta redação.
Apresentou suas credenciais – e pediu para usar o telefone (para os que não acreditam, registro que houve, sim, vida inteligente, em uma época pré-celular).
Liberamos o aparelho.
Mas, em troca, o enchemos de perguntas sobre o futuro da Economia brasileira em tempos de redemocratização.