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A festa italiana e a vocação do brasileiro

"A omissão é um pecado que se faz não fazendo." (Padre Vieira)

01. Tenho espalhadas sobre minha mesa as fotos da Festa Italiana de sábado à noite no Clube Atlético Ypiranga. O belo salão Mário Telles está lotado e multicolorido — vejo na decoração o trabalho sempre perfeccionista do velho Zuza, o faz-tudo do CAY há não sei quanto tempo. Além do summer branco do cantor Ari Sanches, o que me chama mais atenção é a alegria das pessoas que, àquele momento, sentiam-se os próprios oriundi ou melhor seria entendê-los como personagens da novela Terra Nostra? Julianas e Matteos que nunca se perderam vida afora…

02. Confesso uma certa invejinha dessa descontração e do jeito bom de levar a vida. Tive um fim-de-semana daqueles: alguns compromissos profissionais, a leitura de um tratado sobre Ciência e Poder, trabalho dos alunos para corrigir e as anotações de uma semana braba na Redação, onde a tônica foi a questão da segurança pública na cidade de São Paulo. Heliópolis, Febem Imigrantes, terror no shopping, assassinato na Silva Bueno; não faltaram assuntos para fazer capotar o astral da mais otimista das criaturas (e olhe que não computei aqui as nossas trapalhadas pessoais que, no meu caso, não são poucas).

03. Não quero tomar para mim o monopólio dos problemas do mundo. Aliás, não tenho a menor vocação para mártir. Mas, ao olhar essa gente feliz (mesmo que seja só por aquele momento), fico agradecido a Deus de que o brasileiro tenha mesmo esse jeitão de transpor as dificuldades (porque, convenhamos, as coisas não andam fáceis para ninguém) de uma forma tão saudável e apostando na felicidade. Uma felicidade, na verdade, que radica nele mesmo e na possibilidade de ser e estar.

04. Não estou colocanco aqui uma visão otimista do brasileiro. Até porque alguém já escreveu que o otimista é antes de tudo um mal-informado. Mas, veja o brasileiro não espera nada das autoridades (ou melhor, dos homens que ocupam o Poder em todas suas manifestações) que se esforçam para deixá-lo à mingua e salteá-lo de todas as formas possíveis e imagináveis.

05. Vai tocando sua vida. Acabam com as empresas, rareiam os empregos. Ok! Aumentam os impostos, criam taxas absurdas para a Saúde e agora para Segurança; então tá, hein! Enfiam-lhe goela abaixo um juro extorsivo, chegam ao requinte das multas de trânsito eletrônica … E ele espera. Claro que nada do que arrecadam retorna como benfeitoria ou serviço. Mesmo assim ele elevanta, sacode a poeira e dá a volta por cima. Entre um sorriso, uma canção, a novela, o futebolzinho esperto, vai preparando a grande virada. Que virá! Mesmo que seja lenta, demore um pouco mais; mas virá… Simplemente porque essa onda é incontrolável. Eu e você, caro leitor, não sabemos viver de outra forma. O brasileiro tem vocação para a felicidade. E está aprendendo a ser o senhor do próprio destino. Ninguém vive por nós…

Um adendo: no próximo sábado (20) é a vez do Circollo Calabrese realizar sua Festa Italiana no mesmo CAY. Já estou me preparando, só ouço o CD do Sergio Endrigo, aquele onde ele canta "Io che amo sollo te…" É ruim, hein!

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