Foto: Reprodução
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“É o desespero da derrota que se avizinha.”
Ao ouvir a frase, não me contive. Abri um sorriso esperançoso.
Justifica-se.
Tinha pouco mais de 30 anos e acabara de entrevistar o então candidato a senador Almino Afonso, pelo MDB.
Vivíamos momento único até então.
Embarcávamos na tal redemocratização – ampla, geral e irrestrita – que livraria o país dos garrotes ditatoriais.
Almino voltara do exílio em 1976 e agora, ao lado de outros luminares da chamada linha progressista, era uma das vozes a anunciar os novos tempos.
Estávamos prestes a escolher pelo voto direto, depois de décadas de governadores-interventores, quem comandaria São Paulo, o mais pujante estado da República.
O candidato do MDB, André Franco Montoro, era o favorito – e ameaçava desbancar o ungido do Arbítrio, o ex-prefeito Reynaldo de Barros; de resto, apadrinhado por Paulo Maluf.
Por aqueles dias, foram muitas as ameaças de que o pleito não aconteceria.
Davam conta que o núcleo duro da ditadura não estava satisfeito de como as coisas se encaminhavam.
Havia uma certa tensão no ar.
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A entrevista transcorreu tranquila.
Almino (que viria a ser secretário de Estado de Montoro, o vitorioso) estava confiante que a democracia brasileira era “um caminho sem volta”.
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Acompanhei Almino e comitiva até o estacionamento do jornal, e só ali me lembrei de lhe fazer a pergunta:
– Há algum perigo de não acontecer a eleição. O pessoal está vociferando por aí, fazendo ameaças…
Não cheguei a completar a frase.
Antes de entrar no automóvel do amigo e vereador Almir Guimarães, o cicerone das andanças pelo bairro do Ipiranga, Almino disse a frase que me é inesquecível:
“É o desespero da derrota que se avizinha.”
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Foi em 1982.
Parece que foi ontem.
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O que você acha?