Conversa entre dois amigos ao pé da TV que exibe o pronunciamento de Barak Obama, na tarde de domingo:
— Reparou que, em nenhum momento, durante a visita do homem, o Cara deu as caras?
— Será que ficou alguma coisa do tempo em que o Cara era presidente do Brasil; aquela rusga do Irã, por exemplo?
— Sei não. Li que o Cara foi convidado e preferiu ficar na muda para não embaçar as glórias da nossa presidenta.
— Fez bem, mas ficou uma coisa assim mal parada no ar – e não são os helicópteros da segurança americana que tomaram espaço aéreo da Cidade Maravilhosa.
— Sei não. Pode ser. Não sou de palpitar nessas coisas de política. Até porque, vendo isso tudo, tem uma coisa que quero lhe dizer: a vida sempre nos surpreende.
— Já sei o que quer dizer: “Quando alguém imaginaria um negro presidente dos Estados Unidos?”
— É até compreensível, não? Para os da nossa idade, por tudo que vimos acontecer na América em tempos idos e nem tão idos assim, esta dúvida sequer existia. A resposta estava mais do que pronta. Seria nunca, nunquinha. Tamanho o preconceito que havia em diversos estados americanos. Era mesmo um sonho impossível àquela altura. Basta ver os horrores que filmes sobre o tema ainda hoje retratam.
— Basta lembrar a morte de Martin Lutter King.
— Melhor do que lembrar a tragédia, vale destacar o exemplo e a frase histórica do grande líder.
— Frase que se fez profética: “Eu tenho um sonho”.
— Assassinaram o homem, mas não o sonho.
— Bom estar vivo para ver que a humanidade evolui, lá a seu modo e muito lentamente, mas evolui.
— Tem horas que parece retroceder, né? Mas, vamos indo…
— Às vezes, alguns passos para trás são oportunos para que possamos seguir em frente.
— E pensar que em 1989 elegemos Collor presidente!
— Em 60, não fizemos Jânio presidente, então?
— Então, amigo vamos mudar de assunto senão vão nos levar para o Arquivo Oficial do Estado como testemunhas oculares da História.