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A grita do Ipiranga (2)

Como ontem lhes contava…

Foi um furdúncio.

Alamedas, jardins e até o espaço reswervado para a encenação foi tomado pelo público em delírio.

O sistema de som bem que tentou por ordem na coisa toda – mas, os apelos feitos pelo locutor foram todos em vão.

Mal conseguiram preservar o lugar da orquestra que fez a abertura do espetáculo.

Até o reservado para as autoridades civis e militares foi invadido.

Quando o então governador Paulo Maluf chegou, não havia lugar para ele.

Uma senhora – imagino, responsável pelo cerimonial – mostrava-se desesperada:

— Onde eu coloco o governador? Onde eu coloco o homem?

Em meio à confusão e ao empurra-empurra, como vocês devem imaginar, há sempre um engraçadinho para fazer aquela sugestão de praxe – e de baixo calão.

Diria que não foi um somente que fez o tal comentário. Que, diga-se, a senhora preferiu relevar.

Por fim, achou-se um lugar para o governador, protegido por uma muralha de seguranças.

Alguns cavalarianos do exército, vestidos com fardas de época, estavam prontos para encenar como se deu o Grito do Ipiranga, segundo as versões dos livros oficiais. À frente deles, um tenente ostentando costeletas e barbas postiças seria o infante D. Pedro a bradar a célebre frase:

“Independência ou Morte!”

Há um novo tumulto na platéia em busca de um lugar para ver melhor a representação do quadro de Pedro Américo – os cavalos se assustam, e um deles derruba o pseudofuturo Imperador do Brasil.

Nada de grave. Mas, a organização resolveu suspender o espetáculo.

Foi uma decepção.

No entanto, quem estava lá reconheceu que este era mesmo o melhor a ser feito.

No dia seguinte, o Parque da Independência estava devastado.

Demorou meses para se recompor e voltar a ser o berço solene da nossa Independência.

* A propósito, citei no post de ontem o livrorreportagem "Ipiranga – Histórias de um bairro que virou metrópole".

Seu autores são: Ana Paula Pavanello, Camila Zanforlin, Fernanda Guerra, Gabriela Vieira, Jacqueline Toledo e Victor Ribas.

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