Foto: Arquivo Pessoal
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* Ao menos uma ou duas vezes na semana, dou-me ao trabalho de revisitar alguns textos que escrevi aqui no Blog ou mesmo fora dele.
Tenho uma ideiazinha ligeira de produzir uma coletânea – ainda que despretensiosa – sobre meus 50 anos de jornalismo (completados em março deste 2024).
Nada que vá mudar o mundo e a história da Imprensa, óbvio.
Trata-se de um projeto de cunho pessoal mesmo.
Tem muito de memória, outro tanto de gabolice de minha parte e um saboroso naco de nostalgia que me envolve nessa fase da vida.
Creio que os amigos_leitores e os leitores_amigos me entendem.
Ou não?
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Para hoje separei um post/crônica da época em que a terrível pandemia a todos assustava e, cá entre nós, se discutia o que chamaríamos de “o novo normal”.
O texto chama-se:
Johnny Rivers e a Imprensa
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São Bernardo do Campo – 25/06/2020 – Posto em sossego no aconchego do lar como bem recomendam as autoridades sanitárias, eis que toca o celular.
Apresso-me em atender.
Tempos de Imposto de Renda feito à distância pelo Danilo, amigo antigo e senhor dos números e dos mistérios da declaração, melhor não deixá-lo a esperar.
Engano-me.
Não era o Danilo – e sim uma jovem jornalista que gostaria de me entrevistar por videochamada.
Um chiquê.
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A partir de uma pensata sobre jornalismo que escrevi em maio do ano passado para o Jornal da USP, ela gostaria de fazer algumas perguntas.
“Coisa rápida”, diz.
Concordo, com algum pesar.
Neste exato instante, para meu deleite, minha caixa de som começa a tocar By The Time I Get To Phenix com o impávido Johnny Rivers, dolente canção que me enleva desde aqueles dourados anos em que o sonho era possível.
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Olaiá.
Palavra dada. Palavra honrada.
Dou uma ajeitada na estante de livros atrás de mim, e me coloco à disposição.
A repórter se apresenta: trabalha para um misto de Agência de Notícias e Assessoria de Comunicação. Está produzindo a pré-pauta de uma grande reportagem sobre o futuro do jornalismo a partir das mudanças impostas pela pandemia.
Qual o meu diagnóstico?
Pergunta abrangente para uma única resposta.
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Repito basicamente o que escrevi naquele despretensioso artigo.
Chama-se: Acima de tudo, jornalismo é caráter.
Se me honrarem com a leitura, a íntegra: AQUI
Acrescento um ou outro exemplo a partir da minha vivência.
Assim tipo evangelista mesmo:
– Naquele tempo…
Mas, ressalto que não tenho lá grandes projeções a fazer.
Se a moça me permitisse uma suspeita, a experiência de quase meio século neste toc-toc-toc de alinhavar letrinhas me ensinou que é “no andar da carroça que as melancias se ajeitam”.
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Aos poucos, uma a uma, as transformações se consolidam – e muito em função das novas tecnologias que, desde sempre, determinam o novo fazer jornalístico.
Muda a plataforma, não muda a essência.
Os pilares:
1 – respeito à verdade factual
2 – postura crítica e fiscalizadora
3 – independência.
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Resumo da ópera:
Jornalismo, gosto de dizer, é o exercício da humildade.
Prioriza a defesa da democracia e os direitos cidadãos. Todos os cidadãos.
Ser repórter, a base de tudo.
Entrevistar. Conhecer. Entender. Para escrever.
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Uma perda, que me parece considerável e determinante, é que nós, jornalistas, não temos mais o monopólio de dizer o que é ou não importante para o mundo. Perdemos o privilégio de ser os únicos intermediários entre o fato e o distinto público.
Esta é uma perda, reitero, irremediável.
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Explico:
Hoje, cada qual faz a própria primeira página.
No visor do celular ou em outra engenhoca que o valha, o cidadão por si só, em suas redes sociais, repete o papel que antes cabia unicamente ao editor.
Seleciona, classifica e escolhe o que quer ou não ler, o que quer ou não assistir, o que quer ou não ouvir.
Assim como eu, nesta ensolarada tarde de inverno, enquanto rumino lembranças de outras priscas eras, delicio-me ouvindo Johnny Rivers e seus/meus contemporâneos numa playlist absolutamente pessoal e intransferível. Sem qualquer outro mediador a escolher por mim o que devo ou não ouvir.
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Tem seus ganhos, reconheço.
Mas, há também grandes perdas.
Igual a tudo na vida.
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O que você acha?